A comparação que fiz entre Jogos Vorazes e este Battle Royale foi um pouco injusta. Por diversos motivos, mas principalmente porque eu gosto mais de filmes que se levam a sério e fazem isso bem. O que não significa que um filme se permitir ser mais surreal é errado ou ruim. E certamente, gostar mais de Jogos Vorazes não quer dizer que não gostei de Battle Royale.
Em um futuro próximo, o Japão passa por problemas sérios com os jovens. O número em excesso deles e um monte de regras que os protegem começa a criar um sentimento de medo generalizado nos adultos. Para lidar com isso, o governo criou uma lei que permite escolher uma turma de adolescentes para que lutem entre si até a morte. A turma do filme passa por questionamentos relacionados a coleguismo enquanto tentam sobreviver ao massacre.
O próprio conceito não é muito sério. A bizarrice propõe uma reflexão. O conceito de tal “reality show” é ridículo justamente porque reality shows tendem a ser ridículos. É claro que uma lei que impõe adolescentes a se matarem não faz nenhum sentido lógico. Se fosse para conter violência adolescente dando direito para que adultos praticassem a própria, pra que um reality show desse jeito? Tem muita gente por aí que não gosta de criança e não teria problemas em fazer maldades com elas.
Mas é tudo parte do nonsense que esse filme cria. Questionar esse tipo de coisa é a mesma coisa que questionar a lógica belicista de Círculo de Fogo. Não faz sentido e o filme sabe disso, assim como o espectador. Já que todo mundo sabe, pra que se esforçar em ser verossímil ou realista?
Ser nonsense, surreal ou ilógico não significa não ter qualidade. Se a regra fosse essa, Monthy Pyton, Douglas Adams e Buñuel não seriam reverenciados como os gênios que são. O problema é que as pessoas analisam Battle Royale como algo sério. Mas ele é um representante do cinema violento e estilizado do Japão.
Como todo filme violento daquele país, é tudo muito explícito, rápido e brutal, mas nada realista. As pessoas gritam, esperneiam, o sangue jorra para todos os lados, os golpes parecem falsos e os personagens reagem às feridas de maneiras diferentes. Um cara leva uma machadada na cabeça e sai andando por alguns segundos confuso com o que aconteceu. Pessoas levam golpes fatais e caem mortas em interpretações malucas.
Não é pra levar a sério. É muito violento, não é para crianças e pode até chocar. Mas tanta estilização serve justamente para quebrar tal choque. Risadas involuntárias são bem vindas. O filme não quer que você não ria ou saia chorando. Ele quer ser divertido. E funciona, por mais que a violência crie tensão ou suspense.
É tudo parte da construção daquela realidade. Lá, o protagonista sobrevive a uma explosão de faíscas, uma garota consegue sair andando com uma flecha atravessada na garganta e o vilão pode voltar à vida para atender o celular.
No final das contas, isso tudo não importa. Essa construção serve para o que o filme propõe de verdade. Quando você é forçado a lutar por sua vida contra seus colegas e amigos, onde acaba a racionalidade e começam os instintos?
Qual o limite da amizade quando se está em uma situação extrema? O questionamento é interessante, mas o nonsense exagerado remove um pouco do contexto.
Dá para ver que o diretor Kinji Fukasaku entende do que faz. Planos longos e que exploram bem a profundidade criam cenas muito bem elaboradas e acrescentam bastante ao nonsense e às gags. A fotografia condiz com o estilo e tudo parece no lugar.
No final, a reflexão se perde um pouco, mas a narrativa é legal, o filme é divertido e com certeza vale o tempo gasto assistindo.
GERÔNIMOOOOOOO…