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Ben-Hur (1959)

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Ei-lo. O maior dos épicos clássicos. Uma das produções mais grandiosas já feitas. O vencedor de mais Oscars até o Titanic, que surgiu mais de trinta anos depois. Um filme tão grandioso e com tanta nostalgia que as pessoas se sentem intimidadas a gostarem dele. Tanto que poucos lembram que ele é um remake e julgam a refilmagem recente por isso.

Para fazer um épico típico das décadas de 1950 e 1960, nada melhor que uma trama bíblica. Poucas coisas podem ser mais religiosas que uma história em paralelo à paixão de Cristo. Ainda mais a derrocada trágica de um judeu que descobre a redenção com a morte do filho de Deus.

Trata-se de um espetáculo grandioso de Hollywood (o que não significa falta de qualidade) do período. Esta adaptação do livro Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo, tinha um objetivo: ser maior que a vida. E cada frame das quase quatro horas de duração demonstram isso claramente. Todos os aspectos técnicos respiram grandiloquência.

A começar pelo uso de películas de 65 milímetros, que capturam com tanta definição o filme que o material original provavelmente poderia ser reproduzido em uma tela IMAX sem precisar de qualquer tipo de conversão. Os aparelhos usados eram tão grandes e pesados que limitavam a movimentação.

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Cenas estáticas. Câmeras imensas limitavam a movimentação.

Há o uso de imagens grandiosas, como centenas de figurantes (todos com roupas de couro para representar a época) diante de dois personagens que dialogam. A direção de arte é detalhista para dar história para cada pessoa em cada um dos imensos cenários. A arena da corrida de bigas tem o espaço para que os carros com quatro cavalos pudessem correr ao mesmo tempo, com figurantes nas arquibancadas. Tudo minimamente detalhado.

A trilha sonora é estrondosa, linda, com uma orquestra que ressoa e não incomoda, mesmo que se repita pelas quase quatro horas de filme. A fotografia segue as técnicas melodramáticas do Expressionismo Alemão. Personagens ficam escondidos nas sombras para que os olhos arregalados apareçam em um quadrado de luz a realçar a tragédia momentânea das pessoas.

As interpretações são expressivas para aumentar a noção da tragédia dramática. Os personagens não sofrem apenas, como a dor individual incomoda eles fisicamente. Eles precisam se morder e se estapear. Ver alguém que amam sofrer não é razão para só chorar, mas para arreganhar os dentes em dor enquanto esticam as mãos para os céus em busca de apoio.

Sem dúvida alguma, Ben-Hur é um filme grandioso. Mas o que faz dele um filme de qualidade é como o escopo é criado. Não apenas com a fotografia expressiva, as interpretações melodramáticas, a direção de arte trabalhada no tamanho, a música ressoante, o maquinário técnico de qualidade. É que todos são bons. Ben-Hur é um filme impecável em todos esses sentidos.

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Apesar da grandiosidade, os planos são sobre os personagens.

Os enquadramentos não são apenas grandiosos, mas belos e contam a história. A câmera movia pouco, mas era usada para dar destaque para os elementos certos em cada frame. A arte determina o lugar dos personagens em cena na história. A trilha sonora, por mais que grandiosa, agrada e engrandece o drama sem ser maior que o que acontece na tela. Por mais que sejam melodramáticas, os atores se entregam aos sentimentos. Podem ser exagerados, mas os olhares continuam sinceros.

É tudo muito bom e tudo dialoga bem entre si por conta da condução de William Wyler. Se o diretor segue um estilo de época, ele o faz muito bem. Fazer com que cada detalhe do filme seja para criar noção de tamanho não o atrapalha de contar uma história. Ele sabe que os enquadramentos não são sobre o número de figurantes, mas sobre o que as cenas dizem.

O grande problema, porém, reside no roteiro. Talvez por conta do livro original. Ben-Hur de 1959 é sobre como o sacrifício de Jesus serviu de reparação para a humanidade. E toda vez que o personagem aparece, ele é tão divino, iluminado e maravilhoso que beira o ridículo. Jesus, como parte da trama, atrapalha e quebra a fantasia do filme. Outra coisa que incomoda muito é Messala, melhor amigo/inimigo do protagonista. Ele é mau feito o Pica-Pau porque se envolveu com os romanos, que são apenas malvados e cruéis.

O resultado final é um filme que envelheceu mal por causa da mensagem que tenta passar. A história soa antiquada pelo maniqueísmo e pela adoração religiosa exagerada. Ainda é uma obra-prima tem termos técnicos e é impossível não se deixar conduzir interessado através das várias horas de duração. Antiquado, mas ainda envolvente e impressionante pelo extraordinário trabalho.

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