De vez em quando, um sucesso surpresa recebe uma continuação para tentar repetir o êxito. Com coisas obrigatórias como mais dinheiro, mais efeitos, mais cenas de ação ou de comédia. O resultado normalmente é um filme inferior, mas em raras exceções, como na franquia Bill & Ted, o segundo mantém o padrão.
Depois de pedirem as namoradas em casamento, Bill (Alex Winter) e Ted (Keanu Reeves) recebem outra visita do futuro, versões robóticas deles mesmos. Os robôs os matam e pretendem matar as noivas. A dupla precisa viajar pelo pós-vida para voltar e salvar as garotas.
Se o primeiro filme era uma brincadeira anárquica e esperta com figuras históricas em contraste com a década de 1980, esta continuação muda o foco para a linguagem cinematográfica sobre o pós-vida e o sobrenatural e a choca com os anos 1990. De forma ainda mais criativa, mas também mais datada.
Melhorias visuais e técnicas
Por ironia, a tradução do título erra a jornada. Desta vez Bill e Ted não viajam pelo tempo. Com o diretor Peter Hewitt, mais eficiente em termos técnicos que o anterior, o filme aproveita a grana a mais devido ao sucesso do primeiro para criar ambientações ainda mais irreverentes que os locais do passado.
Desta vez, Bill e Ted vão para o inferno, para o paraíso, e para outros locais retratados por meio de referências a filmes clássicos. Os possíveis castigos eternos que encontram têm cenários angulosos e monocromáticos como nas estéticas do Expressionismo Alemão. Alguns até se assemelham ao Gabinete do Doutor Caligari.
Em certo ponto, Bill e Ted confrontam a morte (William Sadler, icônico no papel) em referência direta a O Sétimo Selo, do Ingmar Bergman. No entanto, trocam o jogo de xadrez por Batalha Naval, Twister e até Detetive. O ceifador usa maquiagem e estética também tirada do estilo expressionista.
Hewitt mostra domínio técnico nas formas como sobrepõe os duplos de Bill e Ted nos mesmo enquadramentos que os protagonistas, ou como faz com que as roupas, peles e cabelos deles fiquem cinzas depois de mortos. Atualmente, os efeitos não convencem da mesma forma, mas para a época é impressionante.
Narrativa criativa e inteligente
Os dois roteiristas do original, Chris Matheson e Ed Solomon, retornam para dar continuidade e acertam em não se repetir. Seria fácil fazer outra trama de viagem no tempo, mas eles escolhem representar Bill e Ted em uma jornada diferente. Tão irreverente quanto, e com o mesmo humor esperto.
Bill e Ted mantêm a ingenuidade que os torna ignorantes, mas é justamente daí que surge a bondade deles. O lema de ser excelente uns com os outros é quase infantil, sem a malícia típica de adultos. E para garantir que os protagonistas não sejam maldosos como crianças podem ser, as versões robóticas deles carregam essa perspectiva inocente e cruel.
Assim como no primeiro filme, parece inicialmente apenas uma série de piadas sobre dois idiotas. Mas Bill e Ted possuem a sabedoria da inocência com que esperam e querem o bem. E com a irreverência da modernidade, com músicas divertidas, jogos de tabuleiros mais fantasiosos, eles subvertem todas as expectativas do que é mostrado.
Desde apertar as roupas íntimas da morte, passam por tentar ter uma conversa cordial com o diabo, até falar informalmente, mas ainda com respeito, com Deus. A franquia Bill & Ted é muito mais criativa e inteligente do que a premissa de dois adolescentes em aventuras abstratas merece. Não à toa, são clássicos cult.
Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo
Prós
- Criatividade reflete na linguagem e no visual
- Mensagem de inocência e gentileza
Contra
- Ficou ainda mais datado que o original
- Piadas homofóbicas pontuais
Resta torcer para que o terceiro filme tardio, lançado 29 anos depois, consiga manter o nível alto dos dois originais. Pelo menos os atores voltaram, assim como os roteiristas e criadores dos personagens. Seria bom, porém, se diminuíssem o humor homofóbico, que não é mais aceitável.
mano tu é muito chato