Chegou o novo filme do Woody Allen. Blue Jasmine troca os típicos protagonistas masculinos se passando por um alter ego do diretor e assume a imagem de uma mulher com todas as neuroses dele. Com um tanto a mais de características relacionadas a conceitos de psicanálise.
Jasmine é forçada a viver com a irmã após algum tipo de tragédia familiar acontecer com seu casamento com um homem rico e com status. Aos poucos, essa tragédia vai sendo revelada. O filme acompanha as consequências na vida e na estabilidade mental da personagem do título.
Allen brinca mais uma vez com uma sugestão feita em Melinda & Melinda. Blue Jasmine é hilário, mas é uma tragédia. Quanto maior o sofrimento da personagem e maior o desenvolvimento do melodrama, mais engraçado o filme será. A trajetória de Jasmine vai se aprofundando em tristeza a cada pequeno passo que dá em sua nova vida.
Ela chega na casa da irmã querendo sair de lá rica e com boas condições novamente. Essa busca é cheia de percalços. Jasmine não tem a educação para os empregos que a fariam rica e não tem o dinheiro para pagar um curso que sustente as aulas que precisa. É um problema bem comum de quem não é rico, mas para ela é inacreditável. Como se fossem problemas de outro mundo.
Ao mesmo tempo, a irmã, Ginger, trabalha como empacotadora de compras em um mercado. Seu primeiro casamento rendeu-lhe dois filhos e muitas dívidas. Namora um cara com um emprego tão banal quanto o dela. Sua perspectiva de futuro é trabalhar para se sustentar em uma vida na qual se sente bastante conformada e satisfeita.
É um contraste bem claro. Jasmine não consegue perceber a realidade em que se encontra. Acontecia antes mesmo da tragédia anterior e agora a está levando para um caminho cada vez mais tortuoso. Não via o quanto era injusta com as condições da irmã, não vê que não tem muitas possibilidades de voltar para a vida que estava acostumada e certamente não vê o quanto é uma pessoa detestável.
É justamente por Jasmine ser tão antipática que vê-la chegando ao fundo do poço é tão engraçado. Principalmente quando a ironia de Allen é a forma através da qual a tragédia se dá. Ela esnoba a vida comum que passou a existir ao seu redor, então surge um flashback mostrando que essa mesma parte da vida com muito dinheiro era cercada de mentiras e hipocrisias.
Aqui e ali vemos outras características comuns de Allen como diretor. Por exemplo, sempre há a história de um personagem que se permite confundir atração com paixão. Aqui o Louis C. K. dá conta dessa parte com uma participação boa, apesar de não ser cômica.
Todos os aplausos para a Cate Blanchet. A mulher é um camaleão. Ela cria cada pequeno detalhe dos tiques e das neuras de Jasmine. A personagem é rica em características, indo muito além dos protagonistas tresloucados padrões dos filmes do diretor. Ela ofusca todo o também ótimo elenco de apoio, que conta com o Alec Baldwin mais magro e o Peter Sarsgaard com mullets.
Blue Jasmine é um mergulho talvez ainda mais profundo nas características de psicanálise típicas do diretor. Principalmente levando em conta seus últimos filmes que lidam mais com comédia de situações.
ALLONS-YYYYYYYYYY…