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Branco Sai, Preto Fica

adirley

Vencedor do prêmio de melhor filme do último Festival de Brasília, Branco Sai, Preto Fica ganhou as telas comerciais. Adorado pela crítica por conta da criatividade com a qual expõe os absurdos da situação social atual. Não é sempre que se vê um filme sobre viagem no tempo e destruição em larga escala na Ceilândia, cidade satélite de Brasília.

Dimas Cravalanças é enviado do futuro para reunir provas de como as instituições brasileiras foram preconceituosas e levaram a um ato de destruição que alterou o mundo. Ele passa a acompanhar a rotina de Marquim e Shockito, dois sobreviventes de uma incursão da polícia em uma festa de música black, no Quarentão da Ceilândia. Eles vivem com deficiência física devido ao evento e planejam uma retaliação.

Não é preciso muito tempo de projeção para notar que Marquim e Shockito (nome também dos atores) realmente estão presos a uma cadeira de rodas ou a uma perna postiça. Principalmente com as imagens de arquivo que os mostram mais novos no Quarentão. Literalmente, o filme os retrata como em um documentário. É um caso raro de obra que mistura o estilo documental com ficção. Neste caso, com a trama futurista do personagem Cravalanças.

brancosai3Cravalanças viaja no tempo dentro de um container com luzes de discoteca.

A parte da vida real dos atores/personagens é cruel com os espectadores. Marquim é representado em seu lote em meio a um monte de grades. Como vítima, é ele quem ficou preso pelo crime de sofrer preconceito. Da mesma forma, Shockito precisa de uma perna mecânica, mas não tem como subsidiar a peça. Então modifica itens gastos e já utilizados. A câmera acompanha o passo a passo da vida de cada um. O tempo que Marquim passa nos elevadores para cadeirantes para transitar entre os andares de casa; as idas mancas de Shockito com a perna defeituosa enquanto não consegue terminar a reprogramação da perna nova que encontrou.

Os dois levam vidas arrastadas por conta das condições. Quando é retratado como ficaram naquele estado, surge a frase da polícia enquanto invadia o Quarentão: “Branco sai, preto fica”.  Para os representantes do estado que os invalidaram, a vida seguiu normalmente. Para eles, inocentes, a deficiência é perpétua.

Na parte de representação da ficção, o filme usa de recursos simples. A máquina do tempo de Cravalanças é um container abandonado. As viagens são realizadas com muita música alta e luzes de discoteca. O plano de vingança de Marquim e Shockito envolve uma bomba sonora com o uso de uma antena de rádio. Não fossem as evidências de que as viagens de Cravalanças têm efeito, ele pareceria um doido perdido. Mas de fato, ele recebe mensagens do futuro. E elas só poderiam ser feitas depois das ações dele.

506815.jpg-c_640_360_x-f_jpg-q_x-xxyxxMarquim trabalha em sua máquina de destruição.

O grande problema de Branco Sai, Preto Fica se encontra na condução. A parte documental do longa é lenta demais. Por mais que a vida dos dois protagonistas incomode, elas são mostradas com muitas repetições. Depois de meia hora, praticamente tudo já está claro, mas o filme continua a exposição da tragédia. No final, sugere que a vingança deles é um ato justificável como uma apoteose para o espectador que sente a injustiça dos dois. Infelizmente, não é.

Seria muito superior como um média ou um curta. Como longa, ainda é curioso e interessante, mas cansa rápido.

 

FANTASTIC…

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