O Brooklyn é um dos condados mais importantes da cidade de Nova Iorque. Se não o mais importante, com certeza é um dos mais representativos. Não à toa, diversos filmes sobre o estado envolvem descendentes de imigrantes que se mudaram para aquela região. A grande ironia da nova produção que trata sobre essas origens é que foi realizada em conjunto entre três países de língua inglesa que não incluem os Estados Unidos.
Eilis (Saoirse Ronan) é a filha mais nova de uma família irlandesa nos anos 1950. Sustentada pela irmã e sem experiência suficiente para conseguir um emprego, ela recebe a oportunidade de mudar para os Estados Unidos na comunidade irlandesa do Brooklyn com um trabalho garantido. Mas a falta da família e de tudo o que conhece a impedem de se adaptar ao novo país.
Às vezes a vida força as pessoas a passar por mudanças inesperadas. A escolha entre manter o status quo ou se arriscar a enfrentar uma vida diferente é difícil e coloca em cheque diversos valores pessoais. A história de Eilis é feita desse tipo de conflito. À princípio, não tem nada no Brooklyn para ela. Depois que se acostuma e cria uma vida no local, é possível retornar para o que tinha antes ou os vínculos se tornam impossíveis de quebrar?
A discussão é o foco do roteiro do Nick Hornby, adaptado do livro de Colm Tóibín. Apesar de bons diálogos e escolhas textuais, o material de Hornby comete muitos pecados. Principalmente por ir contra uma das regras mais básicas de estrutura de roteiro. Ele não apresenta o conflito do filme no primeiro ato. Apesar da descrição inicial e da primeira meia hora de projeção, o principal problema de Eilis durante a produção não é se adaptar ao Brooklyn, mas estar dividida entre um amor nos Estados Unidos e outro na Irlanda. Essa trama, que abraça o melodrama mais brega e bobo, só dá as caras quando faltam 20 minutos para o fim do filme. A correria para desenvolver essa complicação resulta em um ritmo ruim e situações forçadas.
Antes disso, porém, Brooklyn é um primor. Hornby trata as idas e vindas de Eilis no condado com singeleza. O mundo da garota no país diferente é construído aos poucos, assim como tudo o mais na vida. Ao viver um dia de cada vez, ela cria uma rotina, conhecimentos, capacidades de trabalhos, afetos, amizades e, principalmente, amor. No carinhoso, inteligente e esforçado Tony (Emory Cohen, eficiente) ela realmente encontra um lar. De volta à Irlanda em uma visita rápida, o crescimento pessoal faz com que ela consiga retomar a vida no país natal com facilidade. Inclusive, se torna mais interessante para os rapazes. Em especial o rico e elegante Jim Farrell (Domhnall Gleeson, excelente). Existem duas vidas prontas para Eilis e ela precisa escolher entre as duas.
John Crowley, o diretor, usa de cores para evidenciar o conflito. Verde remete à Irlanda e o vermelho os Estados Unidos. Enquanto ela não se acostuma no novo país, os cenários com tons rubros cercam Eilis e as roupas verdes dela. À medida em que se adapta, o verde passa a ser substituídos por amarelos e azuis de saturação baixa. Eilis passa a ter identidade própria além de uma terra ou outra. Ela assume também as cores da irmã que já era autossuficiente antes.
Para representar o período, a fotografia naturalista usa luzes um pouco mais fortes que o normal para que os brilhos em tons claros sejam levemente estourados. A sensação resultante é que o mundo inteiro é belo por possuir uma luz maior. A direção de arte reconstrói estilos de vestimentas, edifícios e automóveis de maneira impecável.
A Saoirse Ronan (lê-se Surshu) é uma grande atriz. Ela sabe como interpretar grandes emoções de forma contida. A Eilis é uma mulher retida, mas através dos grandes e belos olhos de Ronan ela ganha todos os tons de dúvida e tristeza que a trama requer. Nunca fica a impressão de que ninguém além de Eilis é uma pessoa de verdade porque não possuem profundidade.
Brooklyn é tenro e belo. Levanta uma questão pela qual quase todas as pessoas precisam enfrentar e não se permite cair em armadilhas fáceis. Porém, não tem ritmo bom e o conflito mal elaborado e corrido fazem com que derrape na meia hora final. Poderia ser um retrato das origens das descendências americanas e das escolhas da vida. Infelizmente se reduz a uma novela pobre no final.
ALLONS-YYYYYYYY…