O cinema infantil com frequência, se permite ter uma liberdade que causa incômodo especial naqueles que não gostam de um filme cômico apenas porque ele faz rir. Algumas poucas produtoras se preocupam com coerência, roteiro ou em apresentar mais do que algumas piadas visuais. Por isso é tão fácil ficar com o pé atrás com esta animação que passou longe do radar em 2015 de quem não tem filhos.
Claramente voltada para as crianças mais novas, as aventuras do alienígena colorido, redondo, de olhos enormes e nome de barulho, Oh (dublado por Jim Parsons), são mais ricas e elaboradas que outras animações mais fracas que tomam os cinemas. Para que os adultos não fiquem perdidos na hora de acompanhar os filhos, existe um trabalho de construir os personagens e desenvolver a história que vai entreter os adultos.
Na trama, a espécie de Oh, os boov foge de outro grupo de alienígenas, os belicosos gorg (nota-se os barulhos infantis para dar nome para as coisas). Para escapar, eles invadem a Terra e realocam todos os seres humanos para cidades construídas no território da Austrália. Por ser muito desastrado, Oh avisa os gorgs da localização do novo esconderijo e precisa fugir. Acidentalmente, se une à adolescente humana Tip (voz da Rihanna), e ambos partem em busca de objetivos distintos. Ele quer escapar do castigo, e ela, reencontrar a mãe.
O que surpreende no roteiro não é necessariamente que os personagens têm conflitos interessantes ou algum tipo de profundidade na trama, mas eles serem desenvolvidos com detalhes. Tip e Oh têm tempo para chocar as diferenças das culturas e de criar um vínculo de amizade. Os boovs são centrados no medo e na fuga, o que os força a confrontar até aspectos culturais que mexem com o corpo, como dança. Em certa cena, Tip o força a repensar a perspectiva ao ensina-lo a dançar. Não é apenas divertido porque ele é colorido e muda de cores enquanto se remexe com uma música agitada, mas é um ponto chave para a transformação do personagem.
Além disso, outras características curiosas do texto chamam a atenção, como o fato de que o filme é embasado em falhas de comunicação, e não em atos de vilões, ou as mensagens sobre dar valor a pessoas importantes mesmo que isso force a pessoa a expor as vulnerabilidades. É simples, mas é uma reflexão relevante.
Em termos técnicos, como em todas as animações criadas em computação digital, é impressionante como as texturas e os objetos parecem reais. A fotografia e a direção de arte seguem padrões de cores para diversos temas. O verde e o preto são medo e perigo, rosa e roxo alegria.
A composição musical chama a atenção. Para que os ritmos fossem divertidos e dançantes, foi escolhido colocar músicas eletrônicas para os temas do filme. A mais impressionante é o tema de uma perseguição, chamada Drop That, do músico eletrônico Jacob Plant.
É muito interessante notar a obviedade da escolha de Jim Parsons para dar voz a Oh. Famoso exclusivamente pelo personagem Sheldon, de The Big Bang Theory, ele reprisa muito do humor de discurso de alguém que só compreende palavras e expressões de forma literal. A Rihanna não acrescenta nada.
Cada um na sua Casa funciona muito bem. Vai fazer com que os mais novos riam e se entretenham ao mesmo tempo em que os mais velhos receberão um filme com um roteiro coerente e conflitos bem feitos e desenvolvidos.