Expectativa é a mãe de todas as decepções. Cometi um erro ao assistir essa continuação do Capitão América. Entrei no cinema esperando um ótimo filme. A Marvel e os diretores prometiam resolver muitos problemas que o personagem vinha tendo nos cinemas. O esforço foi sincero, mas faltou foco. O que não necessariamente significa falta de qualidade.
Steve Rogers ainda está tentando encontrar o seu lugar no mundo moderno quando se pega sendo perseguido por conta de alguma infiltração de inimigos desconhecidos na SHIELD. Enquanto tenta descobrir o que está acontecendo, encontra pistas de seu passado.
O Capitão América é um personagem complicado de adaptar para o universo de cinema da Marvel. Seus poderes em comparação com todos os outros da franquia são muito fracos. No primeiro filme ele era apenas um soldado mais rápido e mais forte que os outros. Em Os Vingadores até a Viúva Negra, que não tem poderes, é mais ativa e se envolve em mais cenas de ação que ele.
Então os diretores Joe e Anthony Russo tinham que conseguir fazer com que o personagem fizesse sentido como herói de ação. Além disso, precisavam equilibrar tramas de desenvolvimento para o próximo Vingadores com a trama fechada do próprio filme. Sem contar, é claro, que precisa ser mais um filme divertido e voltado para os fãs das histórias em quadrinhos.
Para resolver os problemas de fazer cenas de ação, os irmãos diretores resolveram seguir o estilo do filme Operação Invasão. O que é uma ótima referência. Operação possui algumas das cenas de luta mais inspiradas dos últimos anos e o Capitão América é um personagem bastante físico.
Isso se reflete muito bem quando as cenas de ação envolvem lutas ou coreografias com dublês. Principalmente quando o Capitão está enfrentando diretamente o tal Soldado Invernal. São lutas rápidas, que impressionam e demonstram como os atores e os dublês estavam preparados. Apesar de os irmãos Russo acrescentarem alguns cortes de câmeras a mais do que essas lutas precisavam. Atrapalha ainda mais quando, aqui e ali, deixam a câmera tremida, tornando a ação confusa. Mas isso acontece pouco e não atrapalha essas cenas.
O problema de verdade da ação acontece quando ela envolve momentos grandiosos e muitos efeitos especiais. Tudo fica falso demais e não dá para se importar com os personagens quando vemos suas versões computadorizadas desviando de explosões e mísseis.
Isso fica muito pior no terceiro ato, quando tudo que poderia acontecer no universo ocorre ao mesmo tempo. Então vemos personagens demais fazendo coisas demais. Várias delas envolvendo efeitos que tiram o interesse das cenas. Ironicamente, a tensão e o clímax funcionam quando as situações são mais íntimas com os personagens falando um com o outro em um cenário. É o que acontece quando se extrapola na megalomania dos efeitos especiais, o elemento humano fica perdido.
Mesmo assim, os diretores não permitem que o espectador não saiba o que está acontecendo entre os vários focos das cenas de ação. É demonstração de que os diretores fazem um bom trabalho com planejamento e montagem. O que impressiona ao se considerar que os dois fizeram apenas episódios da série Community e comédias esquecíveis.
Quanto às duas tramas paralelas desenvolvidas através do filme. Capitão América 2 envolve transformações de certos conceitos do universo Marvel nos cinemas. Uma em específico tão grandiosa e importante para Os Vingadores 2 que toma praticamente todo o foco da trama. Ao mesmo tempo, os dois personagens que estão no título tem mais ou menos meia hora de desenvolvimento. Incomoda ter tão pouco tempo de evolução de personagem em um filme com mais de duas horas.
O Soldado Invernal. Pouco espaço para a melhor história do filme.
O destaque para os dois é tão pequeno, que o clímax divide uma tarefa entre três dos protagonistas. Em menos de dez minutos, dois dos coadjuvantes fazem sua parte. O Capitão leva muito tempo fazendo exatamente a mesma coisa. Enquanto isso, as tramas sobre o universo Marvel ganham mais e mais destaque. E ali no canto, o Capitão e o Soldado Invernal estão brigando sem muita importância para todo o resto que está acontecendo.
Por outro lado, o filme faz um excelente trabalho em ser divertido. Existe um bom equilíbrio entre as cenas de ação, os alívios cômicos e a tensão das investigações do herói para descobrir porque está sendo caçado. O filme passa rápido apesar de sua longuíssima extensão e de diversos de seus defeitos na construção da história.
A trama de espionagem tem inspiração em filmes como Três Dias do Condor. O que funciona ao gerar suspense. O problema é que se trata de uma história complexa de espionagem no universo Marvel, então muitas das reviravoltas vão envolver tecnologias fictícias tiradas de lugar nenhum para servirem de Deus Ex Machina na narrativa. Uma hora um personagem tira uma máscara eletrônica, depois alguém revela que tinha plantado bombas no coração de alguns alvos. Tudo surge de lugar nenhum e não faz muito sentido.
Mas, do meio de toda essa bagunça, existe uma crítica às políticas belicistas dos Estados Unidos. É muito corajoso fazer isso. Especialmente em um filme do personagem de quadrinhos com as maiores características emblemáticas e patrióticas.
Chris Evans é um ótimo Capitão América. A forma como revela o quanto o personagem está perdido no mundo moderno e como isso se choca com sua índole é muito bonita. Principalmente quando descobre a identidade do Soldado Invernal, é algo muito pessoal para ele e Evans demonstra isso com sinceridade.
O ator que faz o Soldado Invernal está em uma forma física impressionante. Seu personagem não dá espaço para interpretar muito. É uma pena, porque o relacionamento dele com o Capitão é muito interessante. A pior parte é que seu momento mais interessante como ator surge depois dos créditos finais, quando praticamente todo mundo já abandonou a sala de cinema.
O Samuel L. Jackson parece estar de saco cheio do que faz nesses filmes. Ao lado dele, a Scarlett Johansson está eficiente. Sua Viúva Negra precisa enfrentar alguns problemas pessoais com suas escolhas morais do passado. Ela faz uma parceria muito dinâmica que funciona muito bem com Evans. O mesmo acontece com o Anthony Mackie, que aparece como um tal de Falcão e serve apenas de apoio para o Capitão.
Redford está confortável no filme.
O integrante do elenco que realmente chama a atenção é o Robert Redford. Ele aceitou o papel por querer estar em um filme que os netos gostariam e por ter achado divertido estar em uma homenagem a um de seus filmes mais famosos (para quem não sabe, ele foi o protagonista de Três Dias do Condor). O fato de o roteiro conter críticas aos Estados Unidos também deve ter atraído o veterano. Ele sabe que está em um filme feito para adolescentes e faz seu personagem com descontração.
Capitão América 2 é um filme que vai agradar os fãs da Marvel e dos Vingadores, mas é confuso para quem não acompanha a franquia ou até para quem só viu o primeiro. Ainda assim, faz um bom trabalho em criar ritmo e tensão.
FANTASTIC…
2 comentários em “Capitão América 2 – O Soldado Invernal”