Carrie está de volta aos cinemas. Após o clássico do De Palma, houveram continuações e remakes para a TV. O remake da vez é novamente para os cinemas e coloca a queridinha da vez, Chloe Grace Moretz como a menina que é tanto vítima quanto monstra. Como todo remake, a dúvida que fica é se o filme é bom por conta própria ou em comparação com o original.
Carrie é uma adolescente que sofre de dois tipos diferentes de abusos. Um por parte da mãe, que é uma extremista religiosa e outro por parte dos colegas que a julgam por considerá-la estranha. Um dia ela passa pela menarca sem saber o que é aquilo, acha que está morrendo e passa por uma situação vergonhosa na escola. Por consequência disso, os abusos aumentam e Carrie começa a desenvolver poderes de telecinese.
A ideia é mostrar de forma crua como a personagem sofre. O espectador deve sentir simpatia pela tristeza dela e querer a vingança. Ao final deve-se sentir a catarse da vingança até que ela perde o controle dos poderes e começa a agir contra pessoas que não eram culpadas por seu sofrimento.
É uma reflexão proposta no livro original de King. O autor coloca características que são comuns em sua obra. Críticas ao radicalismo religioso e muita construção de raiva contra antagonistas. O interessante de Carrie é que ele faz com que a personagem por quem nos simpatizamos seja também o monstro da trama de horror. A vingança é cega e injusta.
É preciso dar os méritos devidos à diretora Kimberly Peirce. Ela não consegue ser expressiva com sua direção, mas mantém o estilo pessoal de focar no drama feminino e retratar o universo adolescente com intimismo. Nada é muito inventivo, apenas eficiente. Funciona porque ela sabe o que faz, mas não tem nenhum diferencial.
As interpretações são o grande forte. Moretz, como sempre, é excelente. O que pega é que a imagem da atriz é de uma garota forte e que se impõe. Quando aparece como uma menina frágil não convence, por mais que ela se entregue ao papel. A Julianne Moore também está maravilhosa como a mãe perturbada. Ela vira uma presença causadora de medo. Gostei de ver a Judy Greer como a professora de educação física que se esforça em ajudar Carrie.
A parte do elenco composta por adolescentes está muito bem, com exceção da vilã que é apenas histérica. Mas o namorado psicótico dela é ótimo, a menina que se apieda de Carrie e cede o namorado para ela está muito bem. O garoto que dá para Carrie a noite de sua vida parece ser só um rostinho bonito mas é muito bom.
O problema é que todas essas qualidades não são originais. Tem tudo isso na versão de 1976. A reflexão do livro de King, uma excelente direção, grandes atuações. Para piorar, no outro filme é tudo melhor. A tensão que sentimos por nos simpatizarmos com Carrie é maior lá. Por mais que Peirce esteja bem na direção, é burrice tentar substituir um nome como o do Brian De Palma. Por melhor que Moretz e Moore estejam no papel, não é boa ideia tentar entrar no lugar das grandes interpretações da Sissy Spacek e da Piper Laurie no original.
As únicas coisas que esse filme tem que funcionam melhor que o original são o casal que ajuda Carrie, a professora feita pela Judy Greer e os efeitos especiais. Por sinal, Peirce tentou ao máximo evitar efeitos digitais para dar prioridade aos práticos, o que é muito bom.
O filme também sofre bastante com a montagem, que teima em colocar cortes entre momentos da interpretação de Moretz que não condizem entre si. Não é difícil vê-la com uma expressão em um take e no corte seguinte o rosto dela ter mudado completamente. É um desfavor ao que Moretz tenta construir em cena.
A montagem também derrapa na famosa cena da menstruação. Enquanto o outro filme usava atores mais velhos para poder ter cenas de nudez frontal, aqui o elenco adolescente é realmente menor de idade. Ou seja, nada de peitinhos da Chloe Moretz. O que é compreensível. Ela ainda se arrisca bastante com uma toalha ficando nua em cena sem que a câmera capturasse nada. Mas o montador não teve o bom senso de esconder as várias vezes em que ela cai no chão e pode-se ver com frequência uma calcinha com cor de pele.
São erros pequenos e técnicos que arruínam a imersão no que é uma história muito boa. Apesar desses momentos, Carrie é um bom filme. Infelizmente desperdiça suas qualidades ao seguir uma grande obra do cinema.
GALLIFREY STANDS…
1 comentário em “Carrie – A Estranha (2013)”