Crítica por Laylla Nepomuceno.
Carrossel 2 – O Sumiço de Maria Joaquina é a sequência do filme baseado na novela infantil do SBT. A trama narra os percalços vividos pelas crianças da Escola Mundial na tentativa salvar Maria Joaquina (Larissa Manoela) das garras dos vilões desengonçados Gonzales (Paulo Miklos) e Gonzalito (Oscar Filho), que obedecem as ordens da invejosa Didi Mel (Miá Mello).
Didi Mel é uma famosa cantora que, ao ver o sucesso das crianças na internet com o clipe “Panapaná”, vê a possibilidade de se vingar de sua velha conhecida, a bondosa professora Helena (Rosanne Mulholland). Didi sempre acreditou que Helena roubava todas as atenções para ela na infância, uma vez que ambas fazem aniversário no mesmo dia. A cantora, então, resolve mandar Gonzales e Gonzalito sequestrarem Maria Joaquina com o objetivo de estragar o dia da professora.
Diferente do primeiro filme, que mostrava as aventuras das crianças no acampamento Panapaná, a nova trama de férias possui um “ar mais urbano” ao se passar no centro de São Paulo. Entretanto, apesar dos cenários reais, a narrativa centralizada nas provas que os amigos de Maria Joaquina devem cumprir para salvá-la é inverossímil. Esse fato pode ser percebido nas cenas em que a professora Helena não chama a polícia por conta do sequestro de Maria Joaquina e nem avisa o sumiço da jovem ao pais ou a escola, acreditando que o problema logo será solucionado. Na tentativa de camuflar o ambiente extremamente fictício criado, personagens do mundo real como o jogador de futsal Falcão e o chefe de cozinha Carlos Bertolazzi são inseridos no contexto ilógico criado.
Toda a trama se passa em um período de cerca de 24 horas. O que deveria proporcionar dinamicidade, resulta em um enredo simplório, repetitivo e na pouca profundidade dos personagens. Alguns não possuem mais do que uma fala durante todo o filme e servem apenas como figuração em diversos momentos. A forte utilização das redes sociais também pode ser observada em situações como o contato realizado entre os sequestradores e os estudantes (que é feito apenas por imagens de vídeo no celular), e a relação baseada em likes vivida por Valéria (Maísa Silva) e Davi (Guilherme Seta).
Os diálogos são bobos e infantilizados, o que não é de se surpreender quando se pensa em um filme teoricamente infantil. Entretanto, o longa é estrelado por um elenco de adolescentes, cuja única preocupação característica da geração abordada são os casos românticos entre eles. Apesar dos personagens principais terem crescido, os criadores do longa possivelmente esqueceram que o público também pode ter passado pelo mesmo processo.
Os clichês presentes na história são ainda mais recorrentes. O menino peidorreiro, a menina patricinha, os meninos que brincam com coisas de meninos e meninas com coisas de meninas, chegam a irritar em determinados momentos. Entretanto, isso se torna ainda pior quando ocorre o reforço de estereótipo, ocasionando em práticas de bullyng feitas pelo grupo.
Laura (Aysha Benelli) é a gordinha da turma e vítima de diversas piadas relacionadas ao seu peso. Ela é rechaçada pelos amigos por não dar conta de caminhar ou pedalar por grandes distâncias e até mesmo por comer em momentos considerados inadequados. Cirilo (Jean Paulo Campos) é o jovem negro que acaba sempre metendo os pés pelas mãos, tendo atitudes desapropriadas em diversos momentos e sofrendo com as risadas dos colegas. Kokimoto (Matheus Ueta), o japonês considerado inteligente e entendedor de artes maciais, chega a ser apelidado por um colega de “Temaki mirim”.
Mesmo com falhas, o filme segue a famigerada fórmula para entreter as crianças de férias. Entretanto, um longa voltado para o público jovem definitivamente não deveria transmitir tamanha estereotipação, uma vez que essa é uma idade em que a identidade social do indivíduo passa por um processo de mudança que define diversos comportamentos e atitudes futuros.