O gênero das comédias românticas sofreu muito. Depois que uma fórmula especial criou as namoradinhas da América, a mistura de estilos aos poucos perdeu o nicho com o encarecimento da arte e ingressos vendidos em maior número para produções de grande orçamento, ou mais “conceituais”. É uma pena, porque em boas mãos, é possível fazer um romance engraçado e que não sirva única e exclusivamente para ser um amontoado de sentimentalismo.
Em mais uma tentativa de revigorar o sub-gênero, Casal Improvável mostra o romance entre Charlotte Field (Charlize Theron), uma secretária de estado americana que pretende iniciar uma campanha eleitoral para se tornar a primeira presidente mulher dos Estados Unidos, e o redator de discursos dela, Fred Flarsky (Seth Rogen). Numa turnê em busca de um acordo internacional, os dois passam a trabalhar juntos e, apesar dos estilos opostos, se apaixonam.
Na verdade, a premissa em si não é inovadora. Homem desleixado e inseguro se envolve com mulher poderosa e que se encaixa em todos os padrões normativos de beleza. A diferença é como os realizadores abordam esse contexto. Não é sobre uma garota apaixonada que aprende o valor de um cara de bom coração. Ambos, tanto Flarsky quanto Charlotte têm qualidades e defeitos, e a “diferença de beleza” não é um problema para nenhum deles. O problema é a situação política e de trabalho dos dois.
De fato, o filme nem sequer questiona que uma mulher admirada pela beleza e pelo talento como a Charlize Theron poderia se interessar por alguém fora de forma, com roupas, barba e cabelo desgrenhados e famoso pelo humor voltado para drogas como o Seth Rogen. Apenas aceita a verdade de que é natural que as pessoas sintam atração por qualquer tipo de corpo e de personalidade.
O grande conflito que pode separá-los durante a história é justamente essa expectativa. Por ser uma mulher política, Charlotte precisa passar certas imagens pessoais para conseguir espaço para se expressar. Precisa ter o cabelo sempre impecável, com roupas elegantes, boa forma, discurso calmo, mas confiante. De qualquer outra forma, ela será encaixada em perspectivas machistas de que mulheres são loucas, frias, feias, descuidadas, ou qualquer outra coisa que não importam em homens.
Inclusive, espera-se dela um envolvimento romântico com um tipo galã, que certamente não corresponde a Flarsky. No entanto, ele compreende o lado humano dela aparte da imagem que ela é forçada a mostrar, e permite que ela se desligue da tensão constante do cargo. Mas ela também acrescente algo a ele, ao mostrar como o redator também tem preconceitos ao ser intolerante com tudo que ele considera incorreto.
E como tanto Rogen quanto Theron são excelentes atores, além de serem ótimos improvisadores, é fácil torcer pelo romance. Especialmente quando este é apresentado de maneira tão madura por duas pessoas que claramente apreciam um ao outro e crescem juntos. Aqui e ali, porém, o filme erra em algumas representações, como o concorrente bonitão do coração de Charlotte, que passa do galante e interessante para um bobalhão convenientemente para que ele saia de cena.
O diretor Jonathan Levine acerta a mão entre o equilíbrio da comédia, que nasce de sátiras políticas e do contraste entre os dois protagonistas, e a seriedade da relação entre eles. Usa aquela típica fotografia do gênero que busca embelezar e romantizar os momentos. Mas sabe dar espaço para o protagonistas passarem de uma discussão sobre moral na neve quando Flarsky se excede e joga um computador na neve, para admirarem juntos a aurora boreal.
O balanço também funciona pela união dos roteiristas Dan Sterling, com histórico de comédias pastelões, e Liz Hannah, de filmes com tons mais políticos. Assim, acertam nos dois aspectos que esta produção requer. É fácil de rir e de torcer pelo casal, e sem ser removido pelas besteiras que romances normalmente erram em colocar nas tramas.