À princípio o entusiasmo foi grande quando se revelou que o diretor Neill Blomkamp comandaria o novo longa da franquia Alien e que iria desconsiderar o terceiro e o quarto filmes. Ele sabe dirigir ação e suspense em contextos de ficção-científica. Além de sempre fazer algum nível de reflexão nas tramas. A empolgação durou até a sessão de Chappie e a terrível conclusão que a qualidade piora a cada filme que ele faz.
Em um futuro indeterminado, Joanesburgo foi tomada pelo crime. Uma série de policiais robóticos foi criada para auxiliar na segurança pública. Deon Wilson (Patel) é o engenheiro que criou os policiais e a inteligência artificial por trás deles. Ele consegue produzir uma inteligência artificial tão complexa quanto a humana, mas a empresa nega o teste em um robô físico. Ao roubar uma carcaça para experimentar em casa, Deon é sequestrado pelo casal Ninja e Yo-Landi (o nome dos artistas é o mesmo dos personagens), que quer, através dele, uma forma de burlar o sistema policial robótico. Juntos, o trio carrega a inteligência artificial na carcaça e a chama de Chappie (Copley). Deon, Ninja e Yo-Landi começam um conflito pelo futuro moral do robô.
Chappie é, como a grande maioria dos filmes que tratam de inteligência artificial, uma discussão sobre a condição humana diante de um ser puro e inocente. Daí já surge o grande problema do filme. O roteiro de Chappie não faz apenas com que os personagens humanos sejam defeituosos. Ele vai além e cria apenas pessoas horríveis. O vilão, um colega concorrente e fanático religioso da mesma empresa de Deon, pode não ser simpático, mas os protagonistas não ficam longe. Com alguma frequência, todos eles fazem coisas terríveis que fazem muito mal para Chappie e o espectador não consegue torcer por nenhum deles. No terceiro ato, certas casualidades acontecem e não há como se importar. Muito pelo contrário, é possível torcer para que esse ou aquele envolvido na ação morra.
Mamãe gangster. Personagem antipática.
O péssimo texto não ajuda. Entre diálogos expositivos e acelerados demais, as ações parecem idiotas. A primeira interação entre Deon e Ninja é feita de gritos e ameaças. Os dois não conversam, Ninja aponta armas para Deon enquanto berra que vai matá-lo enquanto o outro esgoela que vai voltar para reencontrar Chappie. Quando o reencontro ocorre, parece que os dois esqueceram do que foi dito anteriormente. Ninja resolve, em certo ponto, ensinar para Chappie como o mundo é cruel e o joga entre uma gangue de rua. Chappie retorna quase destruído e Ninja fica surpreso, como se colocar o robô em perigo propositadamente não fosse a intenção dele.
Blomkamp é um bom diretor. As cenas de ação são tensas e não é incomum sentir medo pelo robô sempre que ele está em perigo. Ele tem um domínio visual muito bom. A direção de arte repleta de tecnologia futurista misturada com o sujo do mundo de crimes onde Chappie vive cria um tom verossímil. Por mais que Chappie seja impossível, mostrar todas as juntas e engrenagens na aparência física o fazem parecer real. O problema de Blomkamp está na condução. Assim que Chappie desperta e passa pela convivência com os gangsters, o filme fica lento. Principalmente enquanto estes o ensinam a roubar e matar. O robô fica no limite de se tornar antipático. Esse ensinamento apenas cria mais sensação de raiva contra os personagens que ele eventualmente reconhece como papai e mamãe.
Sharlto Copley é o coração e a alma do filme. Chappie foi realizado com uma captura de movimento assustadoramente realista. O robô é mais humano justamente porque Copley imprime nele todo o carisma pessoal. Dev Patel interpreta o roteiro à risca. O personagem é tão burro que o ator parece tolo em cena. A dupla Ninja e Yolandi é um grupo de sucesso na África do Sul e aparentemente está no filme para aumentar a popularidade no país, mas como eles são ruins. Se os personagens dos dois são ruins, a atuação deles aumenta o problema. O brilho vai para o Hugh Jackman. O ator faz um dos raros vilões de sua carreira e, mesmo cruel, fanático, ignorante e mau, seus conflitos são passíveis de identificação. A Sigourney Weaver está lá só para constar e praticamente não aparece.
Hugh Jackman mau feito o pica-pau. Ainda desperta mais empatia que os heróis.
Lento, mal escrito, ilógico e antipático, Chappie funciona apenas nos momentos de ação e nas raras ocasiões em que o robô pode exibir a ingenuidade carismática. Infelizmente, é difícil chegar ao final do filme com boa vontade. Fica o medo pelo futuro da carreira de Blomkamp.
GERÔNIMOOOOOOO…
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