Texto por Jade Abreu.
Era uma vez Ella (Lily James), uma menina que, após a morte da mãe, o pai decide casar novamente. A madrasta, Lady Tremaine (Cate Blanchett), e as duas filhas, Anastasia e Drisella, são cruéis e perversas. O pai era um comerciante e, em uma das viagens a negócios, ele morre. Ella fica sob a responsabilidade da madrasta e passa a ser vítima da maldade dessa personagem. A protagonista conhece o príncipe, casa-se com ele e os dois vivem felizes para sempre. No meio da história aparece uma fada madrinha para que, com um pouco de magia, tudo seja possível.
Até aí, é a história que todos conhecem. Cinderela é simplesmente uma regravação da clássica animação Disney. Sem propor novas análises ou aprofundar na personalidade das personagens, Cinderela continua com papéis tão rasos e planos quanto no conto de fadas. Diferente de Malévola, que recriou o caráter da vilã, o filme da gata borralheira não aproveita a oportunidade para mostrar um outro lado na história. A película até tenta. No início, demonstra o amor do pai de Ella pela mãe e o como a madrasta se sentia rejeitada, o que, de certa forma, explica a frieza da vilã com a menina. Mas não vai além disso na tentativa de aprofundar.
Cate Blanchett como a madrasta. Pouca profundidade.
Até mesmo pelo fato de ser simplesmente um live-action do original, o filme traz muitas referências da animação. Por exemplo: os ratinhos, que apesar de não conversarem, estão nas cenas como os amigos de Ella. Inclusive com a presença do camundongo “Tá-tá”, o mais guloso e lerdo entre eles. O gato Lúcifer também cria uma sensação de déja vu no filme. Parecidíssimo com o felino do desenho, o animal tenta atrapalhar de todas as formas o resto de paz na vida dos bonzinhos.
É interessante o filme ser narrado. Isso traz a característica do conto de fadas, do livro infantil, o que traz o espectador ao imaginário das crianças. Também é interessante a explicação do nome Cinderela. Por dormir no sótão, à noite Ella sentia muito frio. Então, nos períodos gélidos noturnos, a protagonista dormia em frente à lareira. Ao acordar, estava com o rosto coberto de cinzas, que em inglês significa cinder. O nome cinderela é, então, oriundo da humilhação que a heroína sofria das irmãs e madrasta.
A interpretação de Helena Bonham Carter, como fada madrinha, é sensacional. Ela busca o tom bem humorado da personagem mística com leveza e doçura. Acho que atuação melhor só a de Cate Blanchett, que faz a vilã perversa com extrema elegância. O figurino da madrasta é o mais charmoso e bonito do longa. As imagens do filme também são muito bonitas. O castelo, o baile, a carruagem, a floresta, as paisagens a cavalo. São cenas em que a beleza do cenário se sobressai a qualquer defeito.
Helena Bonham Carter. Fada madrinha engraçada.
Em suma, o filme é um pouco cansativo e repetitivo. Não busca por novas iniciativas e interpretações das histórias. Em uma época de regravações dos enredos clássicos, aquele que não inova fica no mesmo patamar que o antigo, sem acrescentar nem contribuir ao já feito. Não sei se cabe ao século XXI acreditar em uma mocinha que só pode se salvar da crueldade da madrasta ao conhecer um príncipe; e que só pode dançar com ele depois de ter sido agraciada pela magia da fada madrinha. Na verdade, eu prefiro acreditar que essas crenças já viraram abóboras há muito tempo.
È… Hollywood anda sem imaginação….ou sem aposta na mulher do século XXI …Sou mais as heroínas, como Ervilina, da escritora brasileira Silvia Orthof, que se nega a casar com o príncipe, pois quer fazer suas próprias escolhas.