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Quando o primeiro Círculo de Fogo foi lançado, em 2013, a discussão eterna sobre trama simples como defeito voltou à tona. Cinco anos depois, com a continuação, fica óbvio que mesmo produções voltadas para o entretenimento precisam de qualidade em roteiros e direção.
Dez anos após os pilotos de jaegers – robôs gigantes pilotados por duas pessoas via conexão neural – pararem uma invasão de kaijus (monstros gigantes) de outra dimensão, Jake Pentecost (John Boyega) é forçado a voltar ao programa para treinar uma turma de cadetes quando uma tecnologia de drones surge para substituir as máquinas de combate.
Uma coincidência já dá as caras quando a principal motivação para a pancadaria ocorre. No período de seis meses que Jake tem que esperar no quartel, um robô pirata aparece e começa ataques misteriosos. É apenas a primeira de muitas,que conduzem a trama cheia de reviravoltas e surpresas até o clímax e o retorno dos kaijus.
O mistério a ser desvendado e a forma como ele desenvolve os contextos de ficção científica do filme original não só é interessante, como envolvente. Desde a descoberta de quem são os responsáveis quanto as motivações estão relacionadas com um aprofundamento da proposta científica de conexão cerebral.
Porém, os excelentes personagens do original saem de cena para dar lugar a um novo grupo de protagonistas, inclusive um filho aleatório do coronel Pentecost (que já tinha conflitos familiares muito bem resolvidos no anterior). Não há explicação para a saída de ninguém, e o novo time não tem conflitos ou desenvolvimento de personagem.
Jake e Nate (Scott Eastwood) têm um passado turbulento e disputam a atenção da mesma mulher. Nenhuma das duas histórias tem conclusão. Da mesma forma, o diretor Steven S. DeKnight (um dos quatro culpados pelo roteiro) não constrói a ambientação das cenas. Em certo momento, é falado que o protagonista tem que voltar para os robôs para ajudar a irmã. Com um corte tem um robô pousando na China e uma pancadaria aleatória com direito a explosão de helicópteros.
No entanto, DeKnight mantém o estilo de filmagem com as câmeras em locais que condizem com o tamanho de pessoas normais, o que engrandece os robôs e os monstros. E não é preciso dizer que ver esses confrontos com alguma verossimilhança resulta em cenas de ação divertidas. Mas sem interesse nos personagens não há tensão pelas vidas deles e, portanto, não há envolvimento com os conflitos.
Montado a seis mãos, o filme tem cortes desastrosos. Em parte devido à necessidade do diretor de simular planos sem cortes que passam do close em pessoas no chão para tomadas de áreas grandiosas. A lente não condiz entre os ângulos e a transição fica visualmente falsa, o que retira o espectador da experiência.
O resultado é uma cópia genérica de uma obra-prima do espetáculo de entretenimento. Se não fosse continuação dessa mesma obra, não seria necessário comparar os dois filmes diretamente. Como duplicação, consegue ser levemente divertido. Como parte da franquia Círculo de Fogo, chega a ser triste.