Confia em Mim foi lançado no festival de Paulínia em 2012. Desde então, como acontece com quase todos os filmes nacionais, o filme ficou engavetado em algum canto por aí. Por que ele está saindo agora? Porque o Mateus Solano, vilão da bagaça, virou fenômeno com uma novela. Só por isso.
Mari (Fernanda Machado), uma cozinheira de sucesso, conhece um homem charmoso e interessante, Caio (Mateus Solano), até que ele revela quem é de verdade. Não é muito surpreendente quando acontece por conta de duas coisas. Primeiro, a velocidade com a qual o relacionamento desenvolve não faz sentido. É rápido demais. Segundo, os atos dele não são estranhos, principalmente quando ela eventualmente confia nele para que ele faça a reviravolta do filme.
Sexo enrolado em lençóis. Porque todo mundo faz assim.
No festival de Paulínia, antes da exibição, o diretor Michel Tikhomiroff falou em uma entrevista que apenas não queria fazer muito feio com seu debute na direção. O que demonstra duas coisas, que ele é humilde e que ele não tinha grandes ambições. Isso se reflete no filme. Não há expressividade. Os enquadramentos, a fotografia, a direção de arte. É tudo inexpressivo. Nada quer dizer nada, é apenas uma história acontecendo ali na tela sem condução dos espectadores.
Basicamente a câmera pega o ambiente, os personagens entram, soltam suas falas e corta para outro ambiente no qual tudo se repete. Muitas vezes, a cena não é realmente importante para a trama, os diálogos são vergonhosos e a falta de expressividade do todo não dá sequer algo para o que prestar atenção. Sem esse tipo de cuidado, o filme não prende. A história apenas acontece. Não tem como se relacionar com a personagem, com o enredo ou com qualquer coisa. O resultado são uma hora e vinte de tédio.
O roteiro é uma maluquice. Basta compreender um pouco de legislação ou do sistema jurídico para perceber que as ações, tanto da protagonista quanto da polícia, estão completamente erradas. O que leva ao final com os “mocinhos” cometendo crimes piores que os do vilão. E o filme vendendo essa ideia como justiça.
Incomoda muito mais quando, após a primeira reviravolta, notamos que a enganação realizada por Caio não teve consequências muito sérias na vida dela. Mari consegue dar a volta por cima com sua carreira e o que foi perdido não faz falta para ninguém. Ou seja, a maldade dele nem foi tão ruim para a mulher. Tanto que, quando a parte de suspense do filme começa, eu estava torcendo por ele. Parte porque a personagem é muito burra, parte porque não me interessava pelo conflito dela.
Mari, reconquista da vida sem muitas dificuldades.
Não se pode culpar a atriz Fernanda Machado por isso. Ela é muito boa e se esforça para dar vida para a personagem. A direção e o roteiro fizeram todo o estrago sozinhos. Quanto ao Mateus Solano, sua interpretação em novela pode ser muito boa, mas seu exagero nas expressões não funcionam em uma mídia com muito menos melodrama. Esse estilo somado às falas mal escritas só pioram o todo.
A trilha sonora é claramente feita com mistura de tons de algum banco de dados de trilha branca. Não há nenhum esforço para fazer com que os sons signifiquem algo. Segue a cartilha do resto dos elementos técnicos da produção.
É preciso falar bem de dois momentos do filme. Um flashback super picotado que explica uma das tramas de Caio e uma parte no final na qual ficamos em suspense sobre se ele vai ou não fazer mal físico para Mari. Além disso, Fernanda Machado está sinceramente se esforçando. É quando acabam as qualidades desse pequeno desastre.
ALLONS-YYYYYYYYYYY…