Se tem algo que Hollywood faz muito bem, no meio do processo quase industrializado de produção de filmes, é aperfeiçoar tecnicamente a realização de uma obra. Mesmo em obras que são óbvias desde o contexto inicial, como este De Repente uma Família, a qualidade impressiona, mesmo que tire muito de uma possível personalidade.
A fórmula de comédia padronizada é repetida para contar a história de Pete (Mark Wahlberg, surpreendente como um homem carinhoso e calmo) e Ellie (Rose Byrne, boa em qualquer coisa que faça). O casal finalmente chegou à condição saudável e confortável para ter filhos, mas passaram dos quarenta anos e não acham que é mais viável. Surge, então, a ideia de adotar.
Mas a adolescente Lizzy (Isabela Moner, eficientíssima ao revelar rebeldia), que os conquistou, vem com mais dois irmãos, e de repente, o par virou uma família de cinco pessoas.
O diretor e roteirista (junto com o parceiro John Morris) Sean Anders usa dos protocolos da comédia estadunidense para fazer uma propaganda da adoção. Com muitas camadas de humor e um passo a passo narrativo para a história emocione e a mensagem seja transmitida. Pode pesquisar, histórias são a melhor forma de transmitir uma ideia.
Mas, como sempre é importante lembrar, não é apenas na estrutura ou na fuga de clichês que se encontra a inovação. Às vezes pode em como eles são usados. Aqui, Anders quer aproveitar uma fórmula batida para contar algo diferente do padrão. Ao invés de romances bobos, ou um melodrama familiar, ele revela o valor de famílias “não tradicionais”.
Então, Anders e Morris usam a estrutura de três atos clássica para mostrar os altos e baixos da tentativa de Pete e Ellie de serem pais adequados. Eles são o casal perfeito para todos os conhecidos, até que alguém aponta que só falta filhos para a família perfeita.
Os questionamentos são o incidente incitante, que faz com que eles adotem e enfrentem vários conflitos como a rebeldia adolescente e o descontrole das duas crianças menores até a crise, quando compreendem o que realmente querem ao serem negados disso. Então tomam a decisão final com base nisso e vão para o clímax.
Nem na filmagem é colocado nada de novo. A iluminação faz questão de deixar tudo visível e a direção de arte é riquíssima, mas voltada apenas para a verossimilhança dos personagens. No entanto, é na reflexão sobre o que faz com que as pessoas queiram ter filhos que a Anders acerta a mão. Ele quis transmitir para um filme a experiência pessoal de ter adotado, e conseguiu.
Para isso, ele faz coisas corajosas, como mostrar as situações em Pete e Ellie se cansam das crianças e até fantasiam com a ideia de se livrar delas. Os dois têm defeitos e até falam coisas altamente questionáveis. Mas Anders não permite que esses e outros tabus façam com que o casal não seja adequado para serem pais.
Nem outras pessoas que pretendem adotar, como um casal gay, um religioso ou uma mulher que quer um filho troféu. Em todos os casos, a lição que Pete e Ellie é válida: amor e aceitação é o que importa. Mesmo que seja absurdamente difícil, com crianças problemáticas. Paternidade e maternidade não são um sonho ou um comercial de margarina, e mesmo assim, não é errado.