Um dos maiores clássicos dos anos 1980. De Volta para o Futuro é considerada uma das melhores trilogias de todos os tempos. Por uma boa razão. Além da simples nostalgia que faz parecer que filmes datados só fossem bons na memória, a saga de duas semanas na vida do adolescente Marty McFly é mais que uma comédia que apenas os mais velhos curtem. Trata-se de cinema de qualidade.
Marty McFly (Fox) acompanha o amigo Doc Brown (Lloyd) em uma experiência científica. O cientista inventou uma máquina do tempo. Durante o experimento sofrem um ataque. Doc é morto e Marty viaja acidentalmente para 30 anos antes. Sai de 1985 e vai para 1955. Enquanto tenta voltar para seu tempo, ele acidentalmente impede os pais de se conhecerem. Agora ele tem uma semana para fazê-los se apaixonar antes que a última chance de viajar para o tempo correto se acabe.
Com um plot que beira tão próximo o absurdo na época em que foi feito, trata-se claramente de uma comédia. Uma das típica comédias recheadas de ação e efeitos especiais que o período disponibilizou. Coisas como Os Caça-Fantasmas e outros humorísticos dão o tom para a história de viagem temporal. Os realizadores, Bob Gale e Robert Zemeckis queriam homenagear e brincar com os valores coloridos e divertidos da década de 1950. Para isso, contrapõem o jovem de 1980, que viu o mundo virar aquele pessimismo, com o “sonho americano” daquela década.
Gale roteirizou a história com muita eficiência. São três tramas paralelas que seguem pelo desenvolvimento do texto. Marty está preso no passado e precisa voltar para seu tempo; os pais não se conhecem e por isso ele e os irmão não nascerão; e ele precisa dar um jeito de impedir que o amigo Doc morra no futuro. Não à toa, existem três ápices em momentos diferentes. O que é muito arriscado em termos de estrutura narrativa. Depois de um clímax, é difícil para uma história continuar interessante por muito tempo. Gale consegue fazer com que os três sejam emocionantes, envolventes e que se prolonguem ao máximo sem perder o suspense, mesmo que em momentos diferentes. Num, Marty é preso em um porta-malas e não pode ajudar o pai em um confronto com o vilão (que inteligentemente não é o antagonista no sentido clássico do termo); noutro, precisa garantir música para que os dois troquem o primeiro beijo; e no final, precisa atingir o ponto exato para que a máquina funcione e o leve de volta para o futuro.
Biff e companhia. Vilão que não é antagonista.
Gale cria personagens caricatos em meio a um furacão de piadas. O estilo surreal não funcionaria sem a direção de Zemeckis. Entre os terroristas líbios que se deixam enganar por uma bomba falsa, o cientista maluco, solitário e excêntrico, a cidade ridiculamente perfeita e falsa de Hill Valley, o nerd cheio de trejeitos que é o pai de Marty e o valentão forte, grande e burro, as mudanças de takes que não são realistas criam ritmos de cena que acertam o timing para as piadas. Quando Marty encontra acidentalmente o pai mais novo, a câmera espertamente não vê o personagem atrás de pessoas e objetos, mesmo que sempre deixe claro que ele está no espaço. Quando é hora de fazer piada com o relacionamento dos dois é que o espectador recebe as pistas de que é ele ali. Alguém chama por um McFly e os dois respondem ao mesmo tempo.
As grandes cenas de ação nunca acontecem por acaso. Quando Marty precisa enfrentar Biff, o garoto que virou o valentão através da vida do pai, surge um grande perseguição de carro e skate que usa bem o pequeno espaço da praça central da cidade. Marty nunca deixa de estar em perigo, o espectador sempre sabe onde todos os objetos importantes estão naquele espaço e, justamente quando a ação coloca a vida de Marty em perigo, ele vence com inteligência em um movimento impossível. Porém, com os ângulos espertos de Zemeckis e a montagem rápida parece real dentro daquele universo.
A música de Alan Silvestri faz com que tudo seja grandioso e tocante ao mesmo tempo. Ajudar os pais a ficar juntos deixa de ser apenas uma questão existencial para o protagonista. Quando ele os vê unidos pela primeira vez, os toques sutis que Silvestri compôs emocionam. É impossível não sair com o tema clássico a ressoar na memória.
Caras e bocas de um personagem adorável.
Michael J. Fox está ótimo. Marty é um jovem magrelo, mas com atitude suficiente para crer na capacidade dele de enfrentar pessoas maiores e riscos grandiosos. Mesmo com a voz em alteração, que fica mais fina quando ele está visivelmente mais assustado. É o acerto para fazer torcer por um personagem que pode sim perder em cada perigo que cai sobre ele. Christopher Lloyd sabe que o Doc Brown é um grande estereótipo fantástico e faz caras em bocas de enquadramento em enquadramento para fazer rir. Ainda assim, o carinho que demonstra por Marty é tocante e faz do personagem algo único em uma série de caricaturas que seriam esquecíveis.
O elenco de apoio mantém a qualidade. Crispin Glover cria em George (o pai de Marty) um jovem tímido, sem jeito e até maldoso, mas que é capaz de demonstrar humanidade quando percebe uma pessoa sofrendo injustiça. Lea Thompson faz de Lorraine (a mãe) uma jovem segura de si, independente e bela também por isso (ninguém pode criticar a beleza da atriz no filme). Thomas F. Wilson coloca vários trejeitos no vilão que beira o estuprador e assassino. Melhor ainda quando os três variam as personalidades dos personagens nas versões mais velhas dos mesmos.
O filme inteiro merecia uma análise de monografia para detalhar todas as ótimas escolhas durante a produção. Em cada cena existe algo de enquadramento e roteiro inteligente. A trilha sonora é inesquecível, a direção de arte faz parte da brincadeira esperta, os atores estão ótimos. De Volta para o Futuro não é apenas um filme envelhecido que ficou marcado pela nostalgia.
FANTASTIC….
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