Representante do cenário de horror gore atual da Nova Zelândia, Deathgasm é um dos filhotes dos exploitation de terror das décadas de 1970 e 1980. A mistura funciona bem no país porque já possui um histórico respeitado com o gênero, o que dá suporte técnico suficiente para um filme de qualidade. Ao mesmo tempo em que não leva a sério os exageros de violência gráfica estilizada e sabe que está lá para divertir.
A mãe de Brodie é presa por atentado ao pudor, então ele é forçado a ir morar com a família religiosa do tio em uma cidade do interior. Como o adolescente é metaleiro, não é bem recebido. A vida dele está horrível até o momento em que conhece Zakk. Outro fã de metal da cidade que já passou por diversos problemas pessoais. Os dois invadem a casa de um antigo astro de rock e encontram uma partitura antiga. Eles a tocam sem saber que é um ritual de invocação demoníaco. Agora a cidade está tomada de demônios e eles são as únicas pessoas capazes de salvar o mundo.
Brodie e Zakk. Dupla imbecil.
Está pronta a desculpa para que um grupo de personagens idiotas se armem de espadas, serras elétricas, guitarras, machados, tesouras de jardinagem e todo o tipo de material cortante típicos do gênero. Desmembramentos e decapitações abrem espaço para muito sangue. As idiossincrasias para piadas nonsense. Um terrir gore que sabe o quanto seria ridículo caso se levasse a sério.
Este é o primeiro e único filme do diretor/roteirista Jason Lei Howden. Antes disso, a carreira dele era apenas de compositor de efeitos tridimensionais para filmes de grande orçamento. Não é surpreendente, portanto, que Deathgasm seja tão bem realizado em termos técnicos. Grande parte do que faz com que o filme funcione é realizado na pós-produção. A montagem acelerada faz bom uso dos planos. Apesar de uma narração de Brodie para conduzir a trama, funciona porque faz uso de animação e computação misturadas com cenas aéreas rápidas e cortes que criam piadas. Para demonstrar o quanto Brodie e Zakk são idiotas, a narração fala sobre como as interações dos dois são divertidas, a música é animada e um plano aéreo dá uma noção de intensidade positiva. Porém, o que o enquadramento apresenta é um texto que os dois escreveram através de fogo em um gramado as palavras Hale Satin (Salve Cetin), porque não sabem como se escreve satã em inglês.
Gags através de situações e efeitos.
Esse humor se encontra espalhado por toda a obra. Seja nas fantasias de poder através do metal que conta com vontades sexuais adolescentes, nas animações que contam com a estética da cultura metaleira ou nas pequenas interações dos personagens com as câmeras. Quando Brodie e Zakk tentam escolher um nome para a banda que criaram, o segundo chega a pegar na câmera para se impôr na discussão. Os efeitos especiais são levemente mal feitos de propósito. Quando uma cabeça é cortada, os esguichos são exagerados. Quando uma cena se passa dentro de um carro em movimento, o fundo verde não se encaixa com os padrões do carro. É tudo para que a violência extrema seja estilizada, e não séria. Assim, ela é engraçada e divertida apenas pelo absurdo. Principalmente em um momento catártico no qual a dupla enfrenta demônios com dildos e plugs anais.
Outra parte que faz com que o humor do filme funcione tão bem é que ele é construído em cima de ironias com padrões convencionais. Os heróis metaleiros podem ser dois idiotas, mas eles pelo menos não são conservadores hipócritas, como os tios de Brodie. Apesar de se fazerem de portadores da retidão moral, são os mais pervertidos e os primeiros a serem dominados pelos demônios.
Metal power fantasy lésbica. Piadas com estilos.
Os atores são um bando de desconhecidos. O intérprete de Brodie fez um Power Ranger em algum momento, assim como a mocinha do filme. A carreira do ator que faz Zakk se resume a ser um dublê de um dos anões de O Hobbit. Ainda assim, eles são ótimos. Abraçam a brincadeira, mas também sabem carregar os momentos sérios. Mais importante, transitam entre os dois sem dificuldade.
Deathgasm, infelizmente, nunca vai chegar a ser nem o que merece: um clássico cult. Como parte de uma produção saturada de horror, não ganha destaque suficiente para ser descoberto além dos vários filme do gênero que surgem no mercado. Ainda assim, é mais legal que grande parte das tentativas de terrir com mais dinheiro.
P.S.: O filme tem uma cena pós-créditos.
BRUTAL AS FUCK…