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Deixe-me Entrar

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Deixe-me Entrar é uma das melhores produções de terror dos últimos anos. Mas sofre com dois problemas gravíssimos que fizeram com que ele fosse simplesmente rejeitado tanto pela crítica quanto pelo público. O resultado é um dos maiores fracassos do cinema recente. O pior é que a culpa não é completamente dos realizadores.

Adolescente que sofre de bullying começa a se relacionar com a nova vizinha que se muda para o apartamento ao lado. Mas em pouco tempo eventos bizarros começam a acontecer. Assassinatos e desaparecimentos escalam junto com os ruídos estranhos que chegam da casa ao lado.

Assassinatos e desaparecimentos. Tem alguma coisa errada com os novos vizinhos.
Assassinatos e desaparecimentos. Tem alguma coisa errada com os novos vizinhos.

O que os grandes filmes de terror tem em comum é o fato de que não se tratam apenas dos eventos macabros que ocorrem e também não são exatamente de terror. O Exorcista é um drama pela maior parte de sua extensão. O Iluminado está mais para um suspense. Deixe-me Entrar segue um caminho parecido.

A história trata sobre descoberta de sexualidade e medo de envolvimento na escola. É basicamente sobre adolescência. O monstro que vive no apartamento ao lado não é só uma criatura feita para amedrontar o espectador. Também representa as tentações e a ferocidade que vem com a idade.

Os dois grandes problemas do filme são bem específicos. O primeiro é relacionado ao fato de que se trata da segunda adaptação do livro Let the Right One In. A primeira adaptação é sueca e foi realizada dois anos antes. Pior ainda, o primeiro filme é uma obra-prima. Logicamente, a produção americana ganhou status de vilã internacionalmente. Como eles ousam refazer a pérola que foi o outro filme só por causa da linguagem falada?

Realmente, o filme é desnecessário. O que é uma alcunha terrível. O filme sueco é muito superior e conta exatamente a mesma história. A diferença fica na forma como a história é contada.

O outro problema do filme é uma franquia chamada Crepúsculo. A sinopse lembra demais a série dos vampiros que brilham no escuro, o que afasta pessoas de bom gosto. Quanto às pessoas que gostam daquela série, é só ver um trailer deste filme que perde o interesse. É um terror, não um romance insosso.

Um dos problemas anula a opinião da crítica. O outro anula o interesse do público. Não sobrou ninguém para assistir. O que é uma pena.

Honestamente. Mesmo sabendo que o filme é desnecessário e mais fraco que seu irmão sueco, não consigo desgostar da versão americana. O motivo é bem simples, o filme é bom. Matt Reeves, um ótimo diretor, adora o material original e conseguiu aprovação do próprio autor, também sueco, para fazer sua versão.

Além do que, Reeves tem alguns insights muito bons que não foram usados no filme sueco. Sua fotografia é mais sombria e tem mais uso de sangue, não mostra os rostos dos pais de Owen para representar a distância entre eles e o protagonista.

Apesar disso, Reeves erra com o uso de muitos efeitos especiais. Eles são bem realizados, mas a animação indica movimentos um pouco inumanos demais. Perde a verossimilhança e deixa claro que se trata de computação. Principalmente quando Abby é substituída por sua versão digital.

O grande acerto mesmo é o fato de que Reeves não tenta inventar demais em cima do livro. Muito pelo contrário, se permite ser absurdamente fiel. O desenvolvimento é lento, a construção da ambientação é excelente e tudo dá mais valor ao que a história significa.

Ao contrário de filmes que contam com romances, este revela uma história com camadas muito mais perturbadoras. Quando descobrimos a identidade real do pai de Abby fica bem claro qual o verdadeiro futuro do relacionamento dela com Owen. E não há final feliz aqui, quer eles fiquem juntos ou se separem.

Abby e Owen. Não há final feliz quando o amor é deturpado.
Abby e Owen. Não há final feliz quando o amor é deturpado.

Esse tom de que há sempre uma coisa errada permeia em diversos níveis pela trama. Owen começa praticando algum tipo de ação assustadora, mais tarde descobrimos que ele está simulando uma vingança contra seus agressores na escola. Então descobrimos que eles próprios descontam em Owen por conta de agressões que sofrem em suas vidas pessoais. É uma escalada de violência e deturpação da juventude.

Quando Abby o estimula a se proteger, a reação é tão violenta e assustadora quanto o bullying que Owen recebe normalmente. E Reeves é bem eficiente em nos fazer gostar disso. Nós, como espectadores, sentimos prazer em ver Owen maltratar seu perseguidores. Da mesma forma que acabamos torcendo para a criatura do filme, por mais perversos que sejam seus atos no decorrer da trama.

Como disse antes, não há final feliz aqui. Tanto nós como Owen e Abby sabemos como tudo acabará. É triste, é errado e vai terminar em sangue e tragédia. Mas nós aceitamos e gostamos que seja esse o final. Será por que torcemos pelo amor, mesmo quando o amor claramente é errado, como entre os dois?

 

GERÔNIMOOOOOOOOO…

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