Depois da Terra

Depois de todos os erros do Shyamalan e de alguns deslizes do Will Smith, os dois se uniram para realizar um novo filme. A história foi idealizada e produzida pelo astro e o roteiro foi co-escrito pelo diretor. Eis que o filme finalmente chega aos cinemas com algumas carreiras em risco.

No futuro, a humanidade foi obrigada a abandonar a Terra após consumir seus recursos. Após milênios em outro planeta e uma guerra contra outras espécies inteligentes e alienígenas, desenvolveu-se um grupo chamado Rangers, que conseguem enfrentar uma arma do inimigo. O comandante Cypher Raige e seu filho caem na Terra do futuro onde o garoto precisa atravessar 100km de perigos desconhecidos para salvar o pai ferido e a si mesmo.
Prestando atenção na sinopse, é preciso mais espaço para explicar o universo que para tratar do conflito principal. Reflete bem como eram as expectativas por trás do filme. Muita gente se focou na ideia de ter uma história relacionada ao rico universo criado. Poucas pessoas perceberam que o filme é sobre essa jornada do garoto para salvar o pai e sua transformação através dela.
Mesmo sendo focado na Terra, o filme ainda se dá ao trabalho de criar com detalhes o mundo dos humanos do futuro. Ironicamente, é na construção desse universo rico e detalhado que o filme fica pior. No começo, mostrando o novo lar dos humanos e seus avanços, o ritmo é uma bagunça, a montagem é terrível e as construções de cena são constrangedoras.
Piora ainda com o design de produção e a direção de arte. O mundo altamente tecnológico dos humanos do futuro parece ser todo falso. Nada realmente convence. Grandes estruturas e máquinas parecem plástico vazio e frágil. O desenho faz com que os prédios pareçam tendas. É muito esquisito.
É quando os dois acabam parando na Terra que o filme começa a andar. Mais interessante que o mundo humano do futuro, a Terra evoluída é um primor de originalidade. Pouco a pouco, a montagem estranha deixa de incomodar quando a tela se deixa ocupar por cenas de ação bem feitas e grandiosas.
M. Night Shyamalan abusa do que sabe fazer melhor, construir momentos de tensão. Pode acontecer quando Kitai, o filho, é mordido por uma sanguessuga que o envenena. Ou também acontece com Kitai fugindo enquanto o monstro “ursa” o persegue. O medo existe porque todos sabemos que o bicho está vindo, mas nunca tem-se a certeza de quando ele vai aparecer. Não precisamos vê-lo para ficar tensos.
Os filmes do diretor da Filadélfia sofrem da própria fama de seu criador. As pessoas esperam uma pérola com uma reviravolta final extraordinária ou um desastre como Fim dos Tempos. Então todos já vão armados para o cinema.
Mas o grande trunfo de Depois da Terra é não se levar a sério demais. O roteiro é previsível, as cenas de ação são absurdas e divertidas. Não se pode ir assistir ao filme esperando por uma grande crítica social como em A Vila ou um drama de reviravolta de O Sexto Sentido. Se for assim, é melhor nem ir ao cinema.
A proposta é ser um blockbuster de ação e efeitos especiais. Mas não é completamente superficial. No fundo da viagem de Kitai, existem críticas sutis relacionadas a sustentabilidade e uma reflexão sobre o relacionamento de pai e filho.
O roteiro não é super expositivo como o de O Último Mestre do Ar. É exatamente o contrário. De vez em quando algumas coisas são explicadas através de alguns planos bizarros. É tanta falta de explicação no geral que, em diversos momentos do filme, fica difícil entender o que acontece.
Shyamalan coloca a câmera entre closes próximos e enquadramentos belíssimos e equilibrados. Os cortes entre os dois são bizarros e sem sentido. Deixam confuso. É parte da razão pela qual a montagem fica bagunçada.
Somando isso com a falta de ritmo, temos um filme cheio de momentos terríveis. Não ajudar a interpretação do papai Smith séria demais. Mas seu filho, Jaden é muito bom. Se tivermos sorte, ele será tão bom ou melhor que o pai um dia.
Bastante defeituoso, mas de forma alguma é um desastre. Apesar de todos os seus defeitos, divertiu.
 
GERÔNIMOOOOOO…