Orgulho e Preconceito foi uma estreia e tanto, mas foi com Desejo e Reparação que Joe Wright mostrou que era um diretor com talento de verdade. Esqueça o romance clássico, aqui a história não é de amor, mas de culpa. Mais qualidade em uma mensagem mais poderosa.
A história é difícil de explicar. Acontecem tantas coisas, com tantas reviravoltas e tramas paralelas que é quase impossível fazer uma sinopse curta. A garota Briony Tallis testemunha o desabrochar da paixão da irmã mais velha com o filho do caseiro. Mas com sua mente infantil, acha que ocorre uma depravação. Para proteger a irmã, acaba cometendo uma injustiça terrível, que vai destruir a vida de várias pessoas por anos. A trama passa a tratar do casal se esforçando para voltar a ficar unido e da Briony percebendo o erro e lidando com a culpa.
O filme é adaptação do livro Reparação. Isso mesmo, sem a parte do Desejo. O título em inglês é Atonement, que significa Reparação. O primeiro nome na versão brasileira é uma tentativa ridícula de fazer uma referência ao Orgulho e Preconceito e de colocar alguma ideia relacionada a paixão e amor e iada, iada.
Na verdade é sobre isso, reparação. Briony busca pelo resto da vida se redimir pelo mal que criou à irmã e seu amante. O diretor disse que o livro mexeu tanto com ele porque tratava da importância de finais felizes. Os personagens merecem um final feliz, até mais que os próprios receptores de história, sejam eles leitores ou espectadores.
Joe Wright é um dos grandes diretores da atualidade. Seus filmes são poderosos e extremamente bem dirigidos. Ele sabe construir enquadramentos apenas com os atores. Mas sempre conta com direção de arte e fotografia de altíssima qualidade. Mas sem a visão maravilhosa de Wright nada disso teria valor.
É o diretor quem cria cenas grandiosas como o maravilhoso plano contínuo na praia de Dunkirk ou a edição da Briony descobrindo a carta de Robbie, o filho do caseiro, para sua irmã. Tudo costurado pela espetacular trilha sonora do Dario Marianelli, que utiliza batidas de máquina de escrever como percursão para a trilha. Como o filme é sobre histórias e livros, parece que a batida de máquina na trilha está literalmente levando a história adiante.
A Keira Knightley está em seu lugar comum como a irmã mais velha, Cecilia, acompanhada de uma interpretação poderosa do James McAvoy como Robbie. Mas a verdadeira potência se chama Saoirse Ronan. Com 12 anos, a garota pegou o filme, colocou debaixo do braço e foi embora deixando todo o resto para trás. Ela interpreta a versão mais jovem de Briony, que depois ainda ganha os rostos da Romola Garai e da Vanessa Redgrave, também ótimas.
Vale também notar no elenco as participações da Juno Temple e do Benedict Cumberbatch. Os dois antes da fama que desfrutam hoje em dia. Ela como uma garota mimada passando por alguns dramas pesados durante o filme, ele como um pedófilo pertubador.
Um dos melhores filmes dos últimos anos. Se você ainda não assistiu, corre atrás. É maravilhoso.
GERÔNIMOOOOOOOOO…