Existe algo de belo e triste na nova audiência que Hollywood encontrou para direcionar filmes. Quem não percebeu a enxurrada de comédias ou dramas leves com protagonistas idosos veteranos e reconhecidos por grandes carreiras? Ao mesmo tempo em que é bom ver atores extraordinários receberem espaço nos holofotes, é chato ver o direcionamento desse lugar ao Sol deles.
Acontece o mesmo no filme em que os três amigos Joe (Michael Caine), Willie (Morgan Freeman) e Albert (Alan Arkin), idosos e dependentes de uma aposentadoria e uma pensão depois de trabalharem por anos em uma fábrica, descobrem que perderam toda a fonte de renda, porque o banco em que depositavam tirou o que tinham com hipotecas. Para se vingarem e equilibrar as contas, decidem roubar o lugar.
Trata-se claramente de um filme de assalto que ganha fortes tons de comédia, ao fazer com que os assaltantes sejam idosos. Além da trama feita para divertir, com o ritmo de planejamento de roubo, e do humor, há um foco curioso em criticar o sistema bancário dos Estados Unidos.
De fato, é uma tendência constante em Hollywood, que, desde 2008 (com a quebra da bolsa de Nova Iorque), faz filmes sobre como os bancos são malignos e lucram em cima da pobreza da população. Desde pérolas como A Grande Aposta, passando por coisas medianas como Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme até chegar a terrores como Larry Crowne: O Amor Está de Volta, o cinema não deixa esquecer a tragédia das hipotecas da década passada e esta comédia entra na lista.
Como em muitos filmes de assalto, a primeira parte envolve aprofundamento nos motivos para fazer o roubo e as preparações para começar a planejar. Aqui, o primeiro ato mistura dramas individuais, como a relação de Joe com a neta e a distância de Willie da família.
Ao mesmo tempo, os três possuem carisma por serem pessoas idosas desrespeitadas pela injustiça do sistema ao qual foram forçados. É claro que ajuda bastante ter atores do calibre de Caine, Freeman e Arkin para transmitir emoções genuínas de pessoas que sofreram injustiça e só querem comer um pedaço de torta ou reencontrar parentes.
Do meio para o fim, a narrativa se desenrola em cima da preparação para o assalto, a realização dele e as consequências diretas e indiretas. Com o padrão de esconder detalhes para que o espectador não saiba como as coisas vão acontecer durante o roubo ou nas investigações.
É uma estrutura básica do subgênero que não se sustenta por diversos problemas. A começar pelo principal, a montagem. Com cortes incompreensíveis, o corte das cenas quebra eixos de câmera e confunde o espectador. Em um diálogo inteiro por telefone, Joe, Willie e Albert dividem a tela, mas em cada parte da imagem há trocas constantes entre eles, apenas para dar noção de movimento. O que certamente não condiz com a imagem de três idosos deitados.
Nessa bagunça, não ajuda a direção de Zach Braff, normalmente um diretor sensível, que busca dar movimento ao fazer com que a câmera se aproxime e dos personagens aqui e ali, mesmo nas cenas mais calmas. É como se o diretor, fascinado com a ideia de fazer um filme divertido, tentasse fazer com que tudo fosse cheio de energia com os movimentos de câmera e a montagem acelerada. O resultado, porém, é incômodo ao tirar o senso de espaço do espectador.
Acrescente a isso um roteiro de comédia que não tem graça, por se focar demais em piadas e comentários engraçadinhos dos personagens em situações cômicas, e um epílogo tão longo que parece que o filme nunca vai acabar, e o resultado é uma produção que tem boas ideias, mas não consegue sustentá-las por carência técnica. Triste ver nomes como os dos atores (e do diretor também) em algo do tipo.