A Pixar estava distante da inventividade antiga nesses últimos anos. Entre continuações questionáveis (Carros 2, Universidade Monstro) e filmes que não decolaram (Valente), não era lançado nada com a qualidade de coisas que já se tornaram clássicas, como Toy Story, Monstros S.A., Up e Wall-E. Felizmente, Divertida Mente chegou para corrigir isso.
Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho são os cinco sentimentos que vivem dentro da garota Riley Anderson. Alegria comanda o grupo para garantir a melhor qualidade de vida da menina. Um dia, porém, os pais de Riley mudam a família de cidade. No desespero para salvar a felicidade da garota, Alegria e Tristeza se perdem no labirinto de memórias de Riley junto com as cinco lembranças que definiram a personalidade dela. As duas precisam voltar para o centro de comando junto com as memórias antes que os sentimentos restantes causem estragos demais.
Enquanto o filme demonstra essa jornada dos dois sentimentos contrastantes, também brinca com diversas analogias complexas sobre a personalidade humana. Existe uma mensagem sobre os valores dos momentos bons e ruins nas vidas das pessoas. Ao mesmo tempo, o filme ainda precisa se sustentar como filme infantil, que garante diversão e prende a atenção das crianças.
Riley com os pais. Cérebros diferentes.
O roteiro segue a estrutura padrão de três atos. Um voice-over de Alegria explica o universo no começo. A aventura começa, desenvolve e chega ao clímax, no qual a protagonista toma uma decisão baseada no que aprendeu para resolver as crises. É na forma como determina o universo dentro dessa estrutura que o texto brilha. O jeito como a personalidade funciona é explicado com base em Riley, mas nos poucos momentos em que a trama mergulha na mente de pessoas adultas nota-se um funcionamento completamente diferente. Parece estranho ou errado, até que a mensagem final é passada. A personalidade de Riley é jovem e ela precisa amadurecer para que seu cérebro funcione como o de adultos.
Alegria sempre estranhou a presença de Tristeza. Se ela é tão boa para Riley, qual a razão para a contraparte existir? Ao se perder com ela, começa a compreensão. Os momentos bons da vida só são valiosos porque existem os momentos ruins. E esse é justamente o motivo pelo qual as pessoas se dão bem entre si. Porque são capazes de compreender o sofrimento alheio. Quem está feliz o tempo inteiro é sempre irritante ou incômodo. Para entender isso, Alegria e Tristeza se perdem em diversas metáforas inteligentes. O labirinto das memórias, o trem que segue a linha de pensamento, as caixas de fatos e opiniões cheias de elementos que se confundem, o abismo do esquecimento. Tudo distrai o adulto entre piadas sutis e pequenos pensamentos profundos.
Alegria e Tristeza aprendem juntas o valor de cada uma.
As crianças, por sua vez, não terão do que reclamar. Apesar de não serem capazes de compreender na totalidade todas as sutilezas e complexidades, elas entenderão os valores dos sentimentos na vida. E mais, os personagens coloridos, fofos e divertidos somados ao ritmo dinâmico e a diversas gags visuais devem deixar o filme divertido para menores.
Belíssima lição com pequenas complexidades e muito bom humor. Divertida Mente tem tudo para ser lembrado entre as grandes obras da Pixar. Emociona, diverte e é impecável na realização técnica. De ruim, fica apenas a péssima dublagem, que conta com uma sofrível Miá Mello como Alegria, com direito a berros e impropérios incompreensíveis.
FANTASTIC…
ótimo filme e ótimo texto o seu 🙂
Obrigado, Dani.