O faroeste se tornou um gênero ultrapassado. A popularidade dos eternos bangue-bangues ficou para trás e Hollywood deixou de dar dinheiro para produções do estilo. Porém, de uns dez anos para cá, a produção de filmes sobre o velho oeste deixou de trabalhar a imagem de homens maiores que a vida para serem introspectivos. Quem diria que seria esse o caminho para um dos gêneros mais comerciais do cinema?
Três mulheres casadas ficam insanas na região de Nebraska. Para serem levadas a um sanatório, Mary Bee Cuddy (Swank), se prontifica a fazer a viagem para o outro lado do país. Antes disso, ela salva a vida de George Briggs (Lee Jones), um homem abandonado para morrer. Agora, para saldar a dívida, ele a acompanha na viagem com as três mulheres. No caminho, esperam encontrar índios, pioneiros com medo de pessoas loucas, bandidos e outros tipos de perigos.
Em tempos antigos, seria a desculpa perfeita para tratar das diferenças dos dois enquanto enfrentam tiroteios e perseguições de carroça enquanto as mulheres na bagagem os ajudam a se entender melhor. Nas mãos de Tommy Lee Jones (roteirista e diretor do filme) atualmente se torna uma reflexão acerca de como o mundo tão sujo e corrupto destrói os homens de moral. Nesse sentido, Dívida de Honra se aproxima mais de obras pós-apocalípticas pessimistas como The Rover que de westerns clássicos, como Era Uma Vez no Oeste.
Western introspectivo. Mulheres desprovidas de oportunidades.
O roteiro não segue estruturas clássicas, o que seria terrivelmente negativo em mãos sem habilidade. Mas Tommy Lee Jones sabe o que faz. A ideia dele não é apenas criar uma história com começo, meio e fim. Após o primeiro ato, quando Mary Bee e George começam a viagem, as coisas deixam de correr como seria normal. Valores são invertidos, expectativas são subvertidas e a cada reviravolta, o espectador vai se pegar surpreso e chocado com a selvageria daquelas terras naqueles tempos.
Jones não se dá ao trabalho de dar tempo para que as cenas se construam. A ambientação é feita pela direção de arte e os enquadramentos que parecem exaltar as construções da época à princípio, mas que aos poucos revelam a fragilidade de tudo aquilo. As madeiras envelhecidas, as roupas velhas, sujas e rasgadas. Esse mundo parece opressor para as pessoas. Não à toa, ele sempre coloca um grande espaço de céu sobre os cenários e os personagens. Existe uma imposição, um peso enorme que cai e maltrata.
No meio disso tudo, dois protagonistas politicamente corretos. Ela chegou aos trinta anos solteira por conta de sua capacidade de se cuidar sozinha, o que afasta os homens. O que deveria ser valorizado em um mundo ideal, é um problema seríssimo para ela. A torna incapaz de encontrar os valores do que era considerado ser mulher. Ele, por sua vez, está tão acostumado a ser desvalorizado por ser quem é que não se deixa abater pelas perdas constantes.
Vidas injustas. Resistência não impede a pessoa de sofrer as derrotas.
O elenco é impecável. Tommy Lee Jones parece ter sentido todas as dores de Briggs. Falar que a Hilary Swank interpreta bem é besteira. Entre os coadjuvantes, nomes como John Lithgow, Miranda Otto, William Fichtner, Tim Blake Nelson, James Spader, Hailee Steinfeld e Meryl Streep. Todos em participações extraordinárias, mesmo que rápidas.
Ao término, fica um gosto amargo na boca. O mundo é podre e vai destruir aqueles que não o são. Se a pessoa for resiliente a esse ataque infindável, terá que se acostumar a perder um pouco mais todos os dias.
ALLONS-YYYYYYYYYY…