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Duas de Mim (2017)

Thalita dobrada

Às vezes é difícil acreditar no que se testemunha quando estamos diante da tela do cinema. Pode ser tanto para o aspecto positivo quanto para o negativo. Basta falar que um dos atores principais deste Duas de Mim é o Latino para saber que o filme pode ser descrito como inacreditavelmente ruim. O que é isso? Mais uma comédia com humor em cima de diferenças sociais da Globo Filmes.

Desta vez, eles copiam a trama de uma excelente comédia da década de 1990 dirigida pelo Harold Hamis, Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias. Suryellen (Thalita Carauta), uma mãe de família do Rio de Janeiro ganha um pedaço de bolo mágico que realiza pedidos e resolve fazer uma cópia de si para ser capaz de manter o emprego de lavadora de louças em um restaurante e correr atrás do sonho de ser uma chef.

Segue o mesmo esquema de produção de comédia brasileira. Um comediante do programa Zorra Total protagoniza um filme sobre um personagem pobre (vide Leandro Hassum em Até que a Sorte nos Separe ou o Rodrigo Sant’Anna em O Suburbano Sortudo) com o humor baseado em comportamentos “bregas” das classes menos endinheiradas em contraste com ricos metidos.

cozinha colorida
Direção de arte colorida reflete a breguice da personagem com baixa renda.

Isso é feito tanto no humor, que se baseia normalmente em atores que berram impropérios em situações exageradas, quanto na direção de arte, que faz dos cenários e figurinos cheios de cores berrantes para os pobres. Os ricos ficam com cortes elegantes e monocromáticas.

Chega a ser quase uma surpresa que o lado que grita constantemente é apenas a cópia de Suryellen. Enquanto a protagonista é mais reservada e preocupada com a vida que construiu, a outra fala com um tom de voz diferente e até tem trejeitos diferentes, com um rebolado mais realçado e um olhar desafiador. Palmas para Carauta, que talvez seja a única qualidade do filme.

Não ajuda ter na direção alguém com histórico em séries humorísticas do canal da produtora do filme, Cininha de Paula, ou o roteirista L. G. Bayão, que só cometeu atrocidades chamadas por aí de roteiros de cinema. Essa falta de talento técnico resulta em iluminação chapada e em buracos na história que parecem chamar o espectador de burro.

Latino como cover de Latino
Latino interpreta um artista cover de Latino.

Ocorrem incoerências, como o tal bolo mágico não ter ingrediente de magia. Suryellen até consegue imitar a receita com coisas que tem em casa, como açúcar, cacau e farinha. O que faz com que a personagem mágica da trama não faça sentido e não tenha importância.

Assim, sem sentido, sem qualidade técnica, sem graça, com o Latino como um dos atores principais e reforço de diferenças sociais, os menos de 90 minutos se arrastam e sentem como várias horas sentado no cinema. Salva apenas terem colocado uma protagonista mulher interpretada por uma boa atriz.

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