O diretor Christopher Nolan conseguiu algo muito peculiar na indústria de cinema atual. Com métodos rigorosos de filmagem e estruturas narrativas muito complexas, ele frequentemente é sucesso de crítica e de público. Depois de embrenhar na ficção científica, em suspenses psicológicos e até em obras de super-heróis, chegou a vez do britânico se provar com uma produção de guerra.
Para isso, ele escolheu o evento real da praia da cidade portuária da França chamada Dunkirk, e três histórias que se relacionam com os fatos. Um dos núcleos acompanha três soldados desesperados para embarcar em um navio e fugir de volta para a Inglaterra. Outro segue um dono de um barco civil convocado para ajudar na evacuação. E o terceiro mostra um piloto que deveria abater os últimos aviões que ameaçavam os soldados ingleses e franceses.
Durante os 106 minutos de Dunkirk, Nolan busca levar o espectador aos momentos de desespero e de terror de pessoas que querem sobreviver ou ajudar outros. Em meio a tanta tensão, o diretor também quer refletir sobre o valor de conseguir viver após eventos traumáticos.
Talvez seja a proposta mais simples na filmografia do inglês. O que não muda a estrutura extremamente elaborada dele. Principalmente porque as três tramas paralelas avançam em tempos diferentes, mas se encontram no clímax. O enredo dos soldados na praia dura uma semana, o do barco civil leva um dia e o do piloto, uma hora.
As tramas ainda trocam de personagens em pontos diferentes e a montagem faz com que os momentos de reviravolta e tensão ocorram em paralelo. Não é novidade nem mesmo entre os filmes do diretor. Em A Origem, ele fez algo muito parecido com situações em níveis de sonhos que seguem tempos diferentes.
Como a brincadeira torna divertido acompanhar os eventos, ela é eficiente. É interessante pensar como certo bombardeio na trama do barco vai ser explicado de outro ponto de vista na narrativa dos pilotos. Ou como um soldado que acidentalmente mata um menino era a pessoa mais calma dias antes, mas em uma cena que aparece depois em outro núcleo.
Ao mesmo tempo, é confuso e difícil de compreender como os eventos se encaixam. Especialmente quando os núcleos se encontram e começam a misturar os personagens. Um tiro de um avião um minuto antes é o risco de pessoas queimarem vivas mais tarde na projeção.
O diretor usa e abusa do suspense para criar momentos de desespero. Seja com uma simples tranca de porta no convés do barco, quanto com soldados presos dentro de um encouraçado que afunda lentamente. A tensão é eficiente porque Nolan permite que os enquadramentos se alonguem nos riscos. Às vezes, porém, não funciona, porque já foi visto em outro núcleo que aquele momento de tensão se resolveu.
Com efeitos práticos até nos aviões (Nolan fez questão que modelos da guerra fossem usados), as imagenss impressionam. Pensar que são filmadas com as imensas câmeras Imax e com câmeras de películas de 65 milímetros em planos aéreos com coreografias complexas que precisam dialogar com barcos e outras coisas que não voam é de embaralhar o cérebro.
A fotografia é bela e conta a história. Existe algo com uma neblina azulada concebida com a iluminação, que dá um tom melancólico e desesperançoso para todos os núcleos. Além disso, o único momento em que certos personagens do núcleo do barco se encontram divididos entre o ódio e a aceitação é também a única vez em que os rostos deles estão nas sombras.
Dunkirk parece vazio por não ter protagonistas claros e ser quase todo em uma grande cena de ação. O filme é, na verdade, simples. Como raras vezes Nolan se permite ser. É quase um respiro em meio às produções pretensiosos dele. É mais um exemplo da maestria técnica do diretor, principalmente em relação à montagem.
É preciso destacar a participação de Hans Zimmer na composição musical. Ele emula sons da guerra através dos instrumentos para aumentar a tensão das cenas. Instrumentos de cordas imitam motores, os de percussão simulam balas, e até um toque de relógio dá a sensação de que há uma contagem regressiva para algo que se aproxima.
Trata-se de mais um desbunde visual e técnico de Nolan, e com a vantagem de não tentar ser algo que não precisa, como na maioria da carreira dele. Complexidade não é sinônimo de qualidade, assim como ser simples pode ser positivo. Pena que o diretor não se permita ser assim com mais frequência.
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