Este texto também pode ser lido no Sete Cultura.
Qualquer pessoa que acompanha política no mundo sabe que os temas de imigração e de pessoas que são contra diferenças estão em voga em todo o planeta. Noticiários de todos os países falam sobre crises de refugiados e sobre movimentos radicais como neonazismo, os dois focos deste Em Pedaços. Produção alemã que discute os males da violência com base em idealismo.
Quem mais vive essas consequências é a protagonista Katja Sekerci (Diane Kruger), uma alemã que teve o marido turco e o filho Rocco mortos em um atentado neonazista. Ela tem que lidar com as diferenças culturais entre as duas famílias, os problemas do passado de traficante do esposo e o ódio contra as pessoas que assassinaram a família dela.
Entre os conflitos dela, o diretor e roteirista Fatih Akin, em uma adaptação de livro de Hark Bohm, em três atos. Primeiro, do atentado à prisão dos dois assassinos, depois do julgamento e, por fim, da busca dela por vingança. São praticamente três curtas com começo, meio e fim que se completam em uma história maior.
A divisão em si não causa problema. Ainda mais com a sensação de continuidade de uma investigação policial para um julgamento. No terceiro ato, porém, a força da história se perde. Enquanto antes era sobre uma mulher, as famílias envolvidas e preconceitos, no fim passa a ser sobre sentidos torpes de justiça.
O que é uma pena. Especialmente por se tratar de um filme muito bem dirigido e bem escrito. Akin mistura vários takes longos com câmera de mão para dar uma noção de verossimilhança que tornam tanto o atentado quanto o sofrimento de Katja mais crus e pesados para o espectador.
Diálogos não expõem nada. O espectador descobre que a protagonista perdeu as esperanças em certo ponto quando ela toma uma atitude drástica. Depois, quando a vontade de viver é retomada, ela volta a pentear um dos lados do cabelo para trás, como fazia com a família viva. A história é contada por detalhes do texto e da parte técnica.
Outro destaque é a ótima interpretação de Kruger, que normalmente passa desapercebida nos poucos filmes hollywoodianos dos quais fez parte. Ela se entrega a essa dor silenciosa de Katja, que pode explodir a qualquer momento quando alguém faz um comentário maldoso sobre as origens do marido, ou quando é forçada a encarar a principal suspeita sem que esta demonstre o menor remorso.
Como uma produção que tem muito a dizer, Em Pedaços peca pelo peso no drama pessoal e em não dar destaque aos temas políticos. Mesmo que um título sobre as discussões apareça na tela antes dos créditos finais, eles não condizem com o fim da história contada. Não fosse o terceiro ato inconsistente, poderia ser um grande melodrama.