É um pecado ir ao cinema com a expectativa de um filme ruim apenas porque este Emoji: O Filme é uma adaptação de ilustrações feitas para comunicação em celulares. Principalmente quando obras licenciadas anteriores, como Uma Aventura LEGO, foram tão boas. Talvez, como naquele, seja possível fazer uma produção inspirada que discuta questões importantes com qualidade.
Aqui, a profundidade se encontra na lição de que não há nada de errado em ser diferente dos outros, mesmo que o único objetivo na vida seja aparecer com um rosto de “meh” em um texto de celular. É o caso de Gene (voz do T. J. Miller), que precisa esconder que é capaz de fazer as expressões de todos os outros emojis porque sabe que pode ser encarado como um defeito no aparelho em que vive.
Ao falhar justamente em uma mensagem muito importante para o dono, ele coloca o mundo do celular em risco de ser formatado (o que será a morte para ele e os companheiros). Para evitar ser deletado, ele foge pelo aparelho em busca da ajuda de Rebelde (voz da Anna Faris), que pode corrigir o defeito na programação dele.
A intenção é garantir a atenção constante das crianças na tela. Os olhos grandes dos personagens fazem com que eles sejam fofos, as cores vibrantes chamam o olhar e um humor incessante visa fazer rir sem parar. Com frequência o amigo de Gene High Five (James Corden) se distorce em gestos bizarros porque ele é apenas o coadjuvante cômico que não cria empatia, por ser também causador de vários conflitos desnecessários para a narrativa.
O pior deles é quando o jogo Just Dance é usado em certa cena e High Five coloca a vida do trio de protagonistas em risco apenas porque estava com vontade de dançar. Além de gags visuais, o filme recorre a trocadilhos como “mas que merda”, proferidas pelo emoji de cocô. São piadas fáceis, colocadas em cena rápido demais e que, se não passam despercebidas, não fazem rir.
A única que é realmente engraçada é um zombaria rápida com o fato de que o Patrick Stewart (mais conhecido com o professor Xavier na franquia X-men e como o capitão Jean-Luc Picard em Jornada nas Estrelas) dubla um dos personagens. É preciso mencionar que ela é fora de contexto com a cena e certamente passará despercebida para a maior parte do público. Ainda mais no Brasil, uma vez que a voz dele é substituída na dublagem nacional.
Além de Just Dance, outras marcas populares são usadas descaradamente, como o Facebook, o Twitter, o Spotify e o Youtube. Elas não apenas estão soltas no filme, como dão a nítida impressão de que houve investimento financeiro e geram cenas sem importância, que fazem com que o roteiro dê voltas desnecessárias para a história.
Como se o texto não sofresse o bastante com isso, ótimos conceitos são desperdiçados porque os roteiristas Mike White, Eric Siegel e Tony Leondis (também diretor da produção) criam muitas tramas paralelas que não são desenvolvidas. Quem mais pena com isso é a personagem Rebelde, que questiona constantemente como o machismo influencia na criação de emojis “femininos”. Toda a busca por independência dela é abandonada em certo ponto para que ela possa servir como degrau na jornada de Gene.
Emoji: O Filme faz o que propõe ao usar todos os elementos básicos de animações para distrair crianças. Elas ficarão presas aos personagens por serem bonitinhos. Caso fiquem entediadas, os montes de cores que passam pela tela chamarão a atenção. E para diminuir a chance de cansaço, o humor fácil deve fazê-las rir. Para os pais que serão obrigados a acompanhá-las ao cinema, porém, é outra história.