Eu já fiz um Épico? sobre o primeiro 300. Mas achei adequado fazer outro sobre essa continuação por algumas razões específicas. Primeiro, porque a crítica e o público não estão gostando muito do filme. Apesar disso, eu gostei bastante. Segundo porque este filme se adequa melhor ao conceito de épico que o outro.
Relembrando o conceito de épico. A palavra épico se adequa a histórias com contextos históricos grandiosos e conceitos morais. Os dois filmes se encaixam no conceito. 300 conta um dos maiores momentos da história da humanidade dando destaque ao conflito do protagonista, o rei Leônidas.
Porém, como na maioria dos filmes do Zack Snyder, a estética e o estilo são mais importantes que a história. Foi o que arruinou Watchmen, Homem de Aço e acabou tornando 300 popular. Se no filme sobre os espartanos a estética estraga o contexto da história, ela também faz com que a produção seja divertida.
O que nos leva à sua continuação. A Ascensão do Império foca-se no ateniense Temístocles e em seus esforços para conter a invasão persa por mar ao mesmo tempo em que Leônidas e sua guarda pessoal se sacrificam nas Termópilas. A direção passa para o desconhecido Noam Murro (que nome maneiro). O novo diretor não se compromete em fazer um filme apenas rápido, cheio de frases de efeito e cenas de ação engrandecedoras e maníacas.
É onde A Ascensão do Império é melhor que seu antecessor. Ele sabe dar valor à história de seu filme. Temístocles não vai à guerra pela glória, mas por seu país, pela liberdade e pelo sonho de uma Grécia unida. O ator Sullivan Stapleton não tem metade do carisma do Gerard Butler para fazer discursos. Mas ele soube dar ao personagem a dose certa de culpa.
Temístocles culpa a si mesmo pela guerra vindoura. Por isso mesmo, também se culpa por cada homem morto em combate. O ator sabe criar esses pequenos momentos com silêncio e muito pesar. A caminhada dele e de seu exército para a batalha não é uma caminhada atrás da glória, mas pela redenção. Infelizmente, Murro não dá para ele tempo de cena para tentar criar sua tragédia pessoal.
No meio disso tudo surge a vilã Artemísia. Vivida por uma majestosa (e bela) Eva Green. Ela é uma mulher que busca vingança contra toda a Grécia e por isso ataca com ódio genuíno. O interessante é a interação dela com Temístocles. Ele nunca se juntou a ninguém por conta de sua vida de política e de guerra. Ela por nunca ter encontrado um homem que estivesse à sua altura.
Na batalha ele se revela um oponente merecedor e ela é a primeira mulher que entra em seu caminho de frente. A atração é imediata e leva a uma cena inacreditável na qual os dois deixam que a atração tome conta da interação. A cena é tão interessante por não ser apenas sexo comum. É um jogo de poder entre os dois. Por isso mesmo o sexo é tão significativo para os personagens e para a trama como um todo. Não é gratuito e ingênuo como no filme de Snyder.
Vale lembrar que Green engole Stapleton em cena. Sua interpretação é tão marcante que ninguém lembra do ator. Ele está bem, mas ela é excelente. Mistura o ódio de sua personagem com uma sexualidade muito forte, o que a torna ainda mais sensual.
Na verdade, os esforços de Temístocles e seu exército quase são em vão. Sem os espartanos ele não tem chance contra os persas. Mas é justamente por isso que ele o faz. As batalhas do filme acontecem para ganhar tempo para o país.
No final, o filme serve para dar a base para uma continuação com as batalhas nas quais Esparta finalmente derrota a Pérsia. Para criar essa base, é preciso uma história fechada, mesmo que secundária. A do Temístocles possui escala inferior, mas o drama dele e de Artemísia são excepcionais e fazem com que A Ascensão do Império seja, em diversas formas, superior ao original.
O orçamento grandioso garantiu qualidade?
Sim. Apesar de deixar de lado as características enaltecedoras e divertidas do primeiro filme, A Ascensão do Império se foca em dramas humanos e se adequa melhor ao gênero épico que o primeiro filme.
FANTASTIC…