Troia foi um dos grandes sucessos de 2004. Tinha tudo, um dos grandes mitos de guerra de civilizações antigas, um dos maiores astros de Hollywood daquele momento e um dos maiores de antigamente. O diretor era o famoso alemão que normalmente acerta com ideias grandiosas para filmes americanos.
Como canta a música famosa “Menelau, o maior dos espartanos venceu Páris o grande sedutor”. Aqui foi em um outro nível. Páris é interpretado por um Orlando Bloom inexpressivo e antipático, enquanto Menelau ganha o rosto de Brendan Gleeson, carismático e bom ator. É uma representação do grande problema dessa versão do poema clássico, A Ilíada.
Tanto a versão escrita quanto o filme focam no mito de Aquiles. Na mitologia grega ele é um guerreiro indestrutível que foi mergulhado no rio Estige, que torna o que toca imortal. Porém sua mãe Tétis precisou segurá-lo ao tentar mergulhar a criança. Por conta disso, seu calcanhar é a única parte do corpo que é vulnerável.
É uma típica tragédia grega, com traições, mortes de parentes aqui e acolá. Sofrimento, ódio e vingança dão o tom. No poema de Homero, os deuses são personagens influentes e decidem diversas das batalhas e conflitos por conta de seus interesses. O filme remove qualquer representação de religiões. Tudo o que acontece é resultado de eventos “verossímeis”. Essa adaptação faz sentido. Páris não escapa da morte pelas mãos de Menelau por conta de Afrodite, mas porque seu irmão não conseguiu encarar sua morte.
São pequenos detalhes que fazem a narrativa ser mais palatável para audiências modernas. O problema é que grande parte dessas soluções forçam os personagens a serem supersticiosos idiotas. Páris literalmente decide arriscar o povo que deveria representar e amar por conta de um rabo de saia, o pai entra em guerra de forma estúpida por conta de religião, Aquiles sacrifica o amor da primeira mulher que ama para colocar seu nome na história.
O único personagem que parece inteligente e cujas escolhas fazem sentido é o Heitor. Ele luta para salvar a família e seu povo. Odeia ter que matar pessoas e entrar em guerra. Infelizmente ele morre no meio de forma idiota para um dos personagens mais detestáveis. Depois disso, o filme simplesmente não desenvolve mais.
O orçamento garantiu qualidade?
Não.
O que o orçamento garantiu?
Os 175 milhões de dólares usados para fazer os cenários gigantescos, reunir os diversos figurantes e criar a frota de navios que impressionou plateias no trailer não salvam o filme dos personagens desinteressantes e antipáticos. Acaba sendo muito barulho por nada.
GERÔNIMOOOOOOOOO…