Se você acompanha este site, provavelmente acha que as palavras Ingrid Guimarães, Larissa Manoela e Globo Filmes não são atrativas. A primeira, atriz reconhecida de teatro e TV, só participou de produções horrorosas que são quase uma ofensa ao espectador. A segunda, passou de pontas como no excelente O Palhaço para se tornar famosa com a novela Carrossel. Mas nada é mais atroz que a filmografia da produtora global.
O conjunto conta a história da relação entre mãe e filha até que a segunda chegue aos 19 anos de idade. Ângela (Guimarães), é muito protetora e tenta dificuldade para abrir espaço para os filhos. Em especial Malu (Manoela), a mais velha. Ela é que mais confronta os limites estabelecidos em casa e faz com que a matriarca repense sobre as necessidades das duas e quem deve apoiar uma a outra.
E os medos são compreensíveis, Fala Sério, Mãe tem todos defeitos esperados do rótulo Globo: cinematografia preguiçosa sem sombras; ângulos aleatórios feitos apenas para pegar todos os atores em cena (na maioria, da altura de quadril, comum de novelas); momentos cômicos embasados em pessoas histéricas aos gritos (as três cenas em que deixa Guimarães livre são uma vergonha); e um roteiro… Bem, o roteiro do filme é que faz com que o jogo mude.
Porque o trabalho do trio Ingrid Guimarães, Paulo Cursino e Dostoiewski Champagnatte foca exatamente nas partes que não se rendem ao caminho fácil das comédias nacionais. A intenção é mostrar os dramas dessa relação de amor e conflitos entre as duas personagens principais. E o texto faz isso com pequenas sutilezas narrativas.
Especialmente para revelar como é difícil para Ângela abrir mão de proteger a filha. Além de cenas feitas para que Guimarães possa improvisar o histrionismo típico, há surpresas. Como o fato de que a mãe não consegue chamar a sucessora de Malu, apelido que a garota assumiu para si, apenas de Maria de Lourdes.
Isso se repete em outras tantas coisas. Ângela tenta forçar Malu a gostar de balé, mas a garota quer aprender jiu-jitsu. A mãe busca ensinar pros filhos certos valores caseiros, mas é a mais velha quem ensina a eles como burlar as regras. Até o ponto em que os papéis das duas começam a trocar.
E Pedro Vasconcelos, o diretor, faz escolhas certas ao repetir enquadramentos. O mesmo ângulo usado para mostrar Ângela com a filha no banho gelado quando a menina, ainda bebê, está com febre é usado na cena em que Malu precisa entrar no chuveiro para cuidar da mãe bêbada depois que ela se divorcia.
É uma mistura interessante de roteiro com direção, por mais que Vasconcelos não consiga escapar das armadilhas habituais do passado de diretor de TV. Ainda assim, o roteiro também não tenta fugir dos lugares comuns de histórias do tipo. Desde a primeira aula na escola até a conversa sobre ter perdido a virgindade, não há situação nova, por mais que todas sejam retratadas de maneiras diferentes.
E como o filme parte entre esses momentos sem que haja um começo, um meio e um fim, ele não tem um bom ritmo. O que faz com que os cerca de 80 minutos de duração pareçam um pouco mais longos.
Manoela é boa atriz. Especialmente nas partes em que precisa interpretar a adolescente desafiadora. Infelizmente, ela tem problemas nas partes mais dramáticas, como em uma cena bela na qual Malu reclama que a mãe não confia nela. Em contraste, é nesses momentos em que Guimarães mais brilha. Ela é realmente boa para dramas, o que é irônico uma vez que ela ficou famosa pelo humor raso.
Com problemas de montagem, direção, ritmo e fotografia, é difícil dizer que Fala Sério, Mãe é um bom filme. Mas o mais surpreendente é perceber que ele é um passo certo para os três nomes relacionados à produção. Ou melhor, certamente não é o desastre pelo qual o espectador possa esperar.