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Faroeste Caboclo

Faroeste-CablocoEstranhamente, Faroeste Caboclo é o extremo oposto do outro filme baseado em vida e obra do Renato Russo. Logo na primeira cena já fica claro que René Sampaio é um diretor eficiente e que sabe o que é cinema. Começa com clara referência visual do Sergio Leone e continua com uma condução maravilhosa.

A história não precisa de explicação. Faroeste Caboclo é uma música tão imersa no imaginário nacional que todos já conhecem a tragédia de João de Santo Cristo. Por isso mesmo é tão complicado de adaptá-la para um filme. Todo mundo tem uma versão pessoal de como a história deve correr e ser visualmente. Mas a versão de um filme é a versão de uma pessoa específica, o diretor.
É claro que um filme da importância de Faroeste Caboclo produzido pela Globo Filmes não vai ficar completamente nas mãos de um diretor iniciante vindo da publicidade como o René Sampaio. Mas o respeito com a qualidade do material foi tão grande que as influências do western spaghetti estão lá. E essa ideia veio do diretor. Ainda conseguiram apoio da família do Renato Russo, coisa que aquela bomba de cinebiografia não tinha.
Ou seja, mesmo não sendo a visão única do diretor, é uma colaboração de pessoas que visavam fazer o melhor filme possível. Para isso, é preciso sacrificar trechos importantes da música. Se o roteiro se focasse por tempo demais na infância problemática do protagonista, não seria centrado na jornada.
Como Faroeste Caboclo é sobre o duelo de João com Jeremias e o triângulo amoroso dos dois com Maria Lúcia, é isso que o filme mostra. Os dois personagens coadjuvantes não são apresentados no meio como na música, mas logo no começo. É demonstração de que são realizadores inteligentes, que não vão tentar agradar a todas as opiniões, mas fazer uma boa versão de sua visão.

Foco na trama principal, Maria Lúcia ganha mais destaque.
Foco na trama principal, Maria Lúcia ganha mais destaque.

Sampaio tem um senso estético apurado, faz do cerrado uma versão brasileira dos desérticos “oestes distantes” estadunidenses. A fotografia deixa a imagem cheia de tons pastéis, fazendo com que os personagens e os sets se confundam com o cenário árido do cerrado brasiliense.
A direção de arte faz uma boa localização da Brasília das décadas de 70 e 80. Deixa de lado as reflexões sobre hombridade dos faroestes italianos para tratar de questões sociais, como pobreza e racismo. No total, fica a construção cuidadosa com momentos da poesia do Renato Russo, mas sem ser fiel demais para não cair no ridículo.
No final, ao invés de fazer um circo da mídia em Ceilândia, tal qual ocorre na música, o filme recria o momento do cemitério de Três Homens em Conflito dentro de um campinho de futebol. Fica mais cinematográfico e não se perde em um momento que seria impossível, mas que fica muito icônico em letra e melodia.
Os atores estão ótimos. O trio principal cumpre cada um de seus papéis de maneira adequada. Fabrício Boliveira está perfeito como João, a Ísis Valverde faz uma imersão e tanto como Maria Lúcia e o Felipe Abib cria um Jeremias completamente descontrolado e perigoso. Todas as falas são expressas de forma verossímil, sem cair naquela babaquice de forçar trechos de música nos diálogos, como naquele outro filme.
Destaque para uma parte na qual surge uma pequena aparição sugerindo que Maria Lúcia pode estar em um show do Legião Urbana antes do sucesso. Essa cena sozinha vale por cem Somos Tão Jovens inteiros.
Somos Tão Jovens foi um filme tão ruim, mas tão ruim, que eu pensei seriamente em sair da sala com apenas cinco minutos de projeção. É de um amadorismo tão grande que causa vergonha. Talvez seja por isso que Faroeste Caboclo pareça tão bom depois. O contraste de qualidade é tão grande que chega a ser bizarro.
Cinemão brasileiro bom de verdade.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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