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Fonte da Vida (The Fountain – 2006)

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Alguns diretores possuem produções que entram imediatamente na lista de filmes obrigatórios. Darren Aronofsky é um dos principais. Fonte da Vida, infelizmente, foi um dos que mais polarizaram as opiniões sobre a qualidade da obra do realizador. Pode ser negativo para o material, mas rico para a discussão e a compreensão de cinema.

Começa obviamente pela complexidade absurda da sinopse. Tommy (Hugh Jackman) é um cientista em busca da cura para o câncer, que descobre uma fórmula que pode alterar a medicina, em uma árvore da América Latina. A busca se torna uma obsessão devido à condição da esposa dele, Isabel (Rachel Weisz), que tem um tumor cerebral. Em paralelo, acompanha-se duas jornadas similares em séculos diferentes. O explorador medieval Thomas busca a árvore da vida no novo mundo para salvar o reino da rainha Isabel, e um viajante espacial tenta salvar uma árvore por meio de uma estrela prestes a morrer.

A confusão é comum. São três histórias paralelas em contextos diferentes relacionadas com algum tipo de busca para impedir a morte. Aronofsky é um diretor de filmes complexos, com inúmeras camadas de significados para refletir sobre alguma epifania acerca da vida. Neste caso, de forma bastante específica e óbvia, a ideia é discutir a importância de aceitar a finitude. Apesar de ser sobre uma questão filosófica relevante e profunda, ela é clara desde o começo.

Tudo que ocorre ao redor de Tommy é uma indicação da verdade que ele se recusa a enxergar: a morte é natural, parte da vida e deve ser aceita. Apesar de ser uma das lições mais difíceis de se compreender, é das mais simples. Justamente por isso, é fácil para o espectador a compreender imediatamente e saber de antemão o que será do protagonista no fim.

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A luz bate direto em Isabel, que é esclarecida. Tommy fica nas sombras da ignorância.

O que também acarreta num contraste muito forte da mensagem com a estrutura do filme. Os 90 minutos de Fonte da Vida são elaborados e complexos demais para uma conclusão tão simples. Leva-se 30 minutos apenas para que seja possível para o espectador compreender que Thomas é um personagem de um livro escrito por Isabel e que o Tommy de tempos atuais é um pesadelo do viajante espacial.

O principal elemento visual é o círculo, que representa a vida e a morte como um ciclo. Um do qual Tommy jamais consegue escapar, por mais que queira. A nave em que ele viaja para a estrela é uma esfera, como uma bolha que separa o ar do vazio. As imagens microscópicas da fórmula que ele resolve são circulares. Os elementos medievais que Thomas usa são redondos. A câmera enquadra as esferas e circunferências de formas similares e repete os posicionamentos dos protagonistas dentro delas.

A luz é, em quase todo o filme, com tons dourados. Elas representam a iluminação por meio do conhecimento. Elas flutuam ao redor de Tommy e Thomas em estrelas, velas e lâmpadas, mas não são capazes de tornar visível todos os ambientes, o que cria sombras fortes e duras, nas quais o protagonista normalmente se encontra. Eles está cercado pela noção necessária para ficar em paz, mas se recusa a enxergar e se mantém na escuridão.

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Kung fu espacial. Tommy é cercado pela iluminação, mas não é iluminado.

Outra alegoria foi usada na parte técnica. Para fazer tanto o macro quanto o microcosmos, Aronofsky usa imagens capturadas com microscópios. Tanto a estrela Shibalba quanto os fungos da árvore possuem visuais semelhantes e parecem vivos. A ideia era diminuir o orçamento de efeitos especiais e fazer uma analogia para como a finitude existe em todas as escalas.

O resultado é um desbunde visual. Fonte da Vida é lindo de se ver. Somado a isso, a trilha orquestrada, criada por Clint Mansell (colaborador comum de Aronofsky), é uma das mais belas da carreira dele. O uso de instrumentos de corda para a melodia sentimental parece um suspiro de epifania de uma pessoa que descobre uma grande verdade. Especialmente no clímax da produção.

O Hugh Jackman e a Rachel Weisz dominam o filme em grande parte por serem os dois únicos atores com destaque nas interpretações, mas principalmente por apresentarem performances extraordinárias. Jackman já se provou um ator de talento em diversos níveis, mas tem algo de especial na obsessão que ele apresenta em tentar salvar Isabel. É possível sentir o amor que o motiva, mesmo quando se torna destrutivo. Fica ainda mais compreensível quando Weisz entra em cena. Além de dona de uma beleza estonteante, a atriz faz com que a personagem seja encantadora na luta contra o medo do câncer e no afeto que demonstra pelo marido.

Os sentimentos em relação a Fonte da Vida são mistos. É uma produção rica, repleta de alegorias inteligentes e extremamente bem feitas, do tipo que apenas diretores do nível de Aronofsky são capazes. A discussão proposta, porém, requer algo mais simples. O que não significa, de forma alguma, que seja menos rico. Ainda assim, é sempre bom ver um filme do realizador.

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