Leitores, nos primeiros dias de maio eu havia chegado à última temporada de How I Met Your Mother. Como eu já tinha percebido que teria assistido a toda a série em um mês se visse aquela temporada em três dias, me preparei. E assim, no terceiro dia acabei passando a noite inteira assistindo a dez episódios.
SPOILERS A PARTIR DAQUI
Tudo foi se encaixando. A forma como Ted se apaixonou por Robin no primeiro episódio foi importante porque é no casamento dela que ele conhece a sua futura esposa. O relacionamento com Stella foi importante porque ele o levou ao emprego de professor universitário. As amizades foram importantes porque Marshall e Lily serviram de bússola para seus relacionamentos e porque seria Barney o motivo pelo qual ele não acabaria junto com a Robin.
Acima de tudo, a jornada como um todo foi importante porque todos passariam por um amadurecimento e também porque Tracy, a futura mãe dos filhos de Ted, precisava passar por sua própria jornada particular. Se os dois tivessem se conhecido em qualquer outro ponto da história, ela não estaria pronta para ele, assim como ele não estava pronto pra ela. A forma como tudo isso se encaixa é muito bonita, assim como trágica.
Justamente por isso o final da série foi tão detestado abertamente pelos fãs. Muita gente queria apenas ver o final no ponto em que Ted e Tracy se conhecem. Exatamente quando Barney e Robin partem felizes para sua lua de mel e Lily e Marshall descobrem sua segunda gravidez. Ponto. Seria o final perfeitamente feliz. Tal qual uma personagem do Neil Gaiman filosofa, é preciso saber onde parar, se a história continua todos morrerão eventualmente.
E é justamente esse o pecado para muita gente. A história seguiu adiante. Como os criadores ousam terminar com finais infelizes e quebrar com a expectativa dos espectadores? Inaceitável! Para outras pessoas, o fim foi injustificável dentro da construção do todo. Ou seja, a série estava desenvolvendo demais dentro de outra ideia para chegar no final e ser sobre o que foi. Para uma pessoa dentre as que eu encontrei, o problema foi o discurso, pura e simplesmente.
São três motivos bem lógicos e básicos. Também os três motivos pelos quais eu adorei o final de How I Met Your Mother. Quanto à história seguir adiante e mostrar que nem todo final feliz o é para sempre, isso é simplesmente genial. Principalmente porque a série estava constantemente mostrando aquele ideal de amores românticos eternos. Do tipo em que duas pessoas são metades opostas da laranja e toda a existência servia para que os dois se encontrassem. Isso para mim é um discurso ingênuo e contrário a todas as contravenções da série.
Depois de anos vendo a Robin lutando para ser uma mulher independente e moderna, que pode sim ter casos de uma noite sem ser julgada e não depender de uma figura masculina, ver um final que vende a ideia de casamento e filho como chave para a felicidade seria uma estupidez. E como todos me diziam que a série terminava mal, eu estava justamente com medo de ver esse final terrivelmente conservador.
Mas a série não me decepcionou. Mostrou através do casamento do Marshall com a Lily que o casamento com filhos pode ser o sacrifício de outras conquistas pessoais significativas. Mostrou com o bebê do Barney que não é apenas o amor romântico que dá significado para as vidas das pessoas. E mostrou com o futuro relacionamento de Ted com Robin que amor romântico não precisa ser eterno para ser bom e importante.
A história seguir adiante pode não ter dado o final feliz que todos esperavam, mas foi um final honesto e que não trata o espectador como idiota. Não foi conservador e ingênuo como estava parecendo. Quanto à construção, acho que foi bem realizada sim. Pode ter parecido corrida, mas era a única forma de fazê-lo. Principalmente porque vi na reviravolta final – Tracy morre depois de onze anos junto de Ted e ele vai ficar com a Robin – um twist. Do melhor estilo possível.
Repensando todo o seriado, nunca foi dito que Ted não terminaria com Robin, só foi dito que ele não teria filhos com ela e que ele amaria muita a mãe deles. Para falar a verdade, a série nunca deixa esquecer que tanto Ted quanto Robin se amam, não importando com quantas pessoas eles se envolvem. Mas, assim como era importante a hora de Ted conhecer a Tracy, o amor nem sempre é adequado. Pode parecer cruel, mas é bem mais honesto que sair por aí dizendo que o amor é a resposta para todos os problemas.
Por isso mesmo que o casamento de Barney com Robin não foi um desperdício. Eles mesmo admitem, foram três anos incríveis que significaram muito para os dois. Um tempo de amor e carinho não é anulado pela separação. Sem contar que o final do Barney com o bebê é muito mais significativo para o personagem que o casamento com a Robin. O filho o fez amadurecer muito mais do que um romance jamais poderia ter feito. Com isso, o fato de que a Robin não pode ter filhos ganha toda uma nova relevância.
Foi honesto, inteligente e passou uma mensagem que eu acho importante em um mundo cheio de sonhos de princesas cercados por uma realidade de sapos.
LEGENDARY…
Esse comentário está muito atrasado mas preciso fazer: Sou uma grande fã da série e iniciei meu marido no início da última temporada, então revi toda a série com ele simultaneamente à última temporada – e revi a última temporada com ele. Vendo assim, foi muito óbvio que essa série foi construída como foi narrada: Fizeram uma história para um final que já existia ao invés de criarem um final pra série. Num episódio do meio da da 9a temporada, enquanto eles estão na pousada comemorando um dos aniversários de casamento, Ted chora quando diz “que tipo de mãe não vai ao casamento do(a) próprio(a) filho(a)”, se lembra de algo e Tracy o consola. Não é uma passagem importante, dá a entender que ele fica triste por sua mãe não ter ido ao casamento dele (pois ela dava mais atenção ao namorado que a ele) e por isso passa batido, mas se assistimos já sabendo do final, percebemos pelo que Tracy diz que ela já está doente e é por isso que ele chora, pois ela não irá ao casamento dos filhos. E eu sempre disse para todos que choramingaram comigo o final “ruim” da série: A meu ver, o título era sobre como ele conhecia Tracy, mas a história, de fato, era sobre a história dele com Robin, sempre foi. Não consigo entender esse povo com todo esse ideal romântico achando ‘ok’ toda a história dele com Robin ter sido em vão em nome de um final feliz para sempre com uma pessoa que só conhecemos na última temporada. Achar ruim o fato dele ter ficado com Robin e não com Tracy é supervalorizar um amor idealizado (como o príncipe que só aparece no final da história pra salvar a princesa) em detrimento de uma verdadeira história de amor, amizade, cumplicidade e reencontros. Nem vou entrar no mérito de Barney (“…ele evoluiu tanto pra chegar no final e bla bla bla…”) pois já escrevi bastante, só vou concluir dizendo que concordo com absolutamente tudo que você escreveu, HIMYM é uma série que soube ter um final realmente inesperado com o twist final e que foi muito inteligente no sentido de ser uma série com início, meio e fim. Assim como Revenge (que teve “88”, infinity times infinity, capítulos e um grand finale), ela tinha data pra terminar. Dizem que a última temporada foi arrastada, mas acho que o objetivo da última temporada se passar praticamente toda no casamento de Barney e Robin é justamente pra dar tempo de contar a história de Tracy sem necessariamente vivermos juntos a história dela – e talvez, assim, amenizar a dor da perda de quem ficou 8 temporadas esperando por ela, já que seria muito pior tê-la perdido depois de 2, 3 temporadas. Ted a conheceu no casamento, e não fazia sentido alongar a série para depois do casamento já que o objetivo nunca foi falar sobre Ted e Tracy. Por outro lado, era necessário contar a história de Tracy e de seus 11 anos com Ted, que merecia uma temporada pra ser explorada. Portanto, não vejo maneira melhor de contar essa história que diluída num grande acontecimento, que foi o casamento dos dois mais “incasáveis” da série, rs.