Algum tempo atrás, as noites de domingo passaram por conflitos de atenção interessantes. Tem uma tal de HBO fazendo séries aclamadas constantemente. Pouco tempo atrás, as noites de domingo contavam com pessoas esperando por mais um episódio de True Detective à medida em que a série chegava ao final da primeira temporada. Na outra semana, após o término de True Detective, a nova temporada de Game of Thrones entrou no ar. Mas parte do bafafá das noites entre esses dois monstros televisivos era focado em algo que a Fox estava passando.
Para compreender o que é este Cosmos, é preciso voltar algumas décadas no passado. Um tal de Carl Sagan, renomado astrofísico, um dos cientistas mais importantes dos últimos cem anos e uma pessoa extremamente carismática, roteirizou uma série de TV que visava demonstrar de forma clara os conhecimentos da ciência para as pessoas. Num total de 13 episódios, Sagan explicava o funcionamento do menor átomo até os limites do universo conhecido. Auxiliado pelas tecnologias de efeitos especiais mais avançadas da época.
Eis que, décadas depois, um dos grandes fãs de Sagan (agora falecido) conseguiu o cargo de diretor da área de astronomia do Museu de Ciências Naturais de Nova Iorque. Neil Degrasse Tyson acabou ficando conhecido como um novo Carl Sagan. Seu profundo conhecimento das áreas da ciência e sua incrível capacidade de promover discursos envolventes e interessantes o tornou personalidade reconhecida. Ganhou até um meme.
A viúva de Carl Sagan, também cientista e colaboradora do primeiro Cosmos, resolveu dar continuidade ao legado do marido. Ela começou o roteiro de um novo Cosmos, seguindo grande parte dos conceitos apresentados pelo marido, contextualizando tudo com a novas descobertas da ciência. Foi ideia dela convidar Degrasse Tyson para apresentar a nova série. Convite que ele aceitou com muita animação.
Cosmos infelizmente já acabou, mas conta com diversos momentos icônicos, como quando Degrasse Tyson explica a evolução do olho humano, a pequenez do ser humano no tempo e no espaço, como uma previsão científica é superior a previsões de astrologia ou os princípios para que a ciência avance.
Computação gráfica permite a Degrasse Tyson testemunhar o Big Bang.
Não gosto normalmente de falar de religião ou de crenças e espiritualidade. Mas assistir a Cosmos é, para mim, algo como assistir uma missa papal. Alguns meses atrás eu assisti a um discurso de Tyson e descobri uma lógica para as coisas em que acredito. As coisas sobre as quais ele fala tanto em seus discursos habituais e em Cosmos são a minha religião. Então me vi na obrigação de falar sobre o assunto aqui na coluna Fora do Cinema.
Parte porque acredito em tudo isso. Parte porque é uma produção admirável. A viúva de Sagan estava a tempos tentando reiniciar a série do esposo. Quando o Seth MacFarlane, criador de Uma Família da Pesada, se envolveu é que o negócio seguiu adiante. Com um orçamento gigantesco, a Fox produziu efeitos digitais suficientes para fazer com que vejamos átomos sendo formados em estrelas distantes ao mesmo tempo em que podemos ver como são as paisagens de uma das luas de Júpiter.
Tudo cercado dos conceitos mais maravilhosos possíveis. Um dos meus favoritos é quando Tyson aprecia a luz e o calor do Sol após apurar os fatos de que os fótons que o atingem foram criados dentro da estrela a aproximadamente 30 mil anos. Mas o que eu mais gosto é o de que somos todos filhos das estrelas e que existimos como forma do universo de pensar.
Abro mão de praticamente qualquer série para dar espaço para Cosmos. Certamente minha opinião aqui é extremamente subjetiva, afinal de contas, trata-se de algo que fala das minhas crenças pessoais. Recomendo fortemente para quem segue os mesmos credos que eu ou que apenas aceita a ciência como uma fonte de conhecimento.
GERÔNIMOOOOOOOOO…