Robôs em forma de dinossauros e de animais enormes, um futuro pós-apocalíptico em que a humanidade passou a viver entre a natureza e vestígios da civilização e, o mais importante, uma garota ruiva de 19 anos com inteligência e habilidades físicas além do comum. Não basta ter um universo com uma história interessante, mas uma personagem extraordinária que se destaca acima de tudo isso.
É preciso dizer que Horizon Zero Dawn tem uma das histórias mais interessantes, se não a melhor, entre os jogos de videogame de 2017. Em uma tribo matriarcal, Aloy (Ashly Burch) é criada como uma das excluídas, que tem que crescer fora da sociedade por causa de algo que aconteceu antes do nascimento. Para descobrir as origens e conquistar o lugar, ela treina a vida inteira para um ritual de passagem da aldeia.
Porém, uma ameaça externa mata o tutor dela, coloca o mundo em risco e levanta uma origem ainda mais sombria do que imaginava. Então, a garota precisa partir pelo mundo em busca de respostas para salvar o planeta, descobrir o que acabou com a civilização e, por meio disso, conhecer a história da mãe.
A princípio, eu tentava explicar para as pessoas como Aloy era interessante por ser uma mulher forte, que supera os homens e por aí vai. Até que percebi que o que a torna realmente boa é o fato de ela ser uma personagem rica além do gênero. Nada na história dela ou no comportamento requer que seja mulher ou homem. Ela apenas tem uma história bem escrita e uma personalidade forte e envolvente.
O que torna a escolha da Ashly Burch para dar voz para Aloy plausível. A atriz ficou famosa quando criou uma série online com o irmão Anthony há cerca de 10 anos, em que os dois recriam incoerências de mecânicas de videogames no mundo físico. Com isso, todos os episódios eram fortemente voltados para o nonsense, o que acompanhou a personagem dela, uma garota lésbica que acredita que é um homem machista.
Era a base para inúmeras críticas ao machismo, à homofobia e a um humor negro inteligente. Um excelente exemplo é o episódio sobre Social Justice Warriors. Veja abaixo:
Burch acrescenta a esse ícone que Aloy foi construída para ser. Ela critica a sociedade matriarcal em que foi criada porque percebe que não faz sentido tratar homens ou mulheres com desigualdade. Em outra, de caçadores, prova que é uma mulher mais capaz que todos os representantes da tribo. Ela é o raciocínio científico à frente do tempo em que vive.
O que também gera o problema de ser uma personagem perfeita demais. O conflito é intrigante, mas é como se ela mesma não precisasse enfrentar e superar alguma dificuldade interior. Ainda mais quando consegue tirar certas conclusões muito elaboradas, como perceber que a Terra é curva pelas sombras, sem nenhum tipo de estudo científico ou matemático.
Ainda assim, o fato de que os desenvolvedores da Guerrilla Games escolheram que ela fosse uma mulher apenas faz com que a força como personagem feminina seja mais forte, porque não é reduzida a estereótipos de gênero. Ela poderia ser um homem pelas características apresentadas, mas é uma mulher porque mulheres são capazes das mesmas coisas.
Na parte de jogabilidade, Horizon foi descrito como um RPG (role playing game) de ação em mundo aberto. Então, o jogador controla Aloy em batalhas de ação com arco e flecha comuns contra os robôs, mas as armas, vida e características dos inimigos são calculadas por números. Comprar a flecha de fogo contra o robô de gelo, com certos pontos de vida acumulados e acertando nos pontos fracos vai garantir a vitória.
Acumular e buscar melhorar esses números é divertido e envolvente devido à contextualização do universo criado pelo jogo. É legal explorar quais robôs têm as peças certas para criar aquela flecha, ou explorar a história daquele vendedor para conseguir aquele item – o que apenas realça o universo bem construído do game.
A batalha, por outro lado, envolve minutos tensos e longos em que o jogador precisa ficar de olho nos números para garantir que a vida não acabe, que os itens sejam usados da forma correta. Além de colocar armadilhas e conseguir fazer com que os inimigos caiam nelas. Sem contar que o uso do analógico do Playstation 4 em lutas rápidas de arco e flecha é desesperador e difícil. Mas, quando o desafio é batido, a satisfação é enorme.
Horizon Zero Dawn é um jogo desafiador, difícil, mas divertido e envolvente. Somado à excelente história e a uma protagonista extremamente simpática, o resultado é uma produção que sustenta a média de 20 a 60 horas para fechar a história (depende se o jogador pretende completar as missões secundárias ou não).