Uma frase de Tudo ou Nada representa muito bem a impressão que se tem do Eike Batista na leitura do livro: “O descompasso entre o que Eike dizia e a realidade o fazia parecer um lunático”. O que cria um contraste instantâneo e bizarro para o leitor, como alguém que pode ser descrito como lunático se tornou o sétimo homem mais rico do mundo? A resposta, deve-se dizer, é de um pessimismo assombroso: ele se tornou tão rico porque o mundo aceita lunáticos de forma positiva.
O interessante, porém, é que o livro da jornalista econômica Malu Gaspar, não assume visões negativas, apenas irônicas, das desventuras nos mercados de exploração de petróleo e de ações do ex-bilionário. Começa com o primeiro fiasco dele, no Canadá, com uma empresa chamada TVX, para a retomada no Brasil com o chamado grupo X (porque a letra, acreditava Batista, trazia sorte para ele) e a queda do mesmo.
Essa ironia corresponde muito bem com o que ela procura no livro. Não é tirar conclusões, mas mostrar com fatos. Muito jornalístico da parte dela, o que não significa que ela seja imparcial. É muito claro na leitura a opinião de Gaspar, que ela já demonstrou em entrevistas. Grande parte do que Batista fez era criminoso, incoerente, arruinou a vida de muitas pessoas, foi peça fundamental para problemas econômicos dos país. A dúvida se ele mentia de forma consciente, se era algum tipo de psicopata ou um neurótico fica no ar.
Impressiona o nível de detalhes com que Gaspar conta a história de Eike. Desde os relacionamentos mais íntimos com modelos, passando pela relação com o pai e chegando na forma como tratava todos os subordinados. Pode parecer absurdo contar a história com tantas relações íntimas, mas elas foram influentes na forma como ele conduziu as empresas. Fazia escolhas com base em quem era mais simpático a ele e poucas vezes tomava decisões devido a fatos.
A sensação de ler os momentos em que Batista mente descaradamente para o mercado é a de estar embasbacado. Primeiro porque ele realmente parece acreditar no que contava e segundo porque o mundo inteiro acreditou. Dentre as mentiras, cometeu crime de especulação e ficava indignada ao ser acusado do mesmo. É quase como ver um maníaco arrastar grupos de pessoas para uma seita até o momento de cometer suicídio. Mas Batista convenceu presidentes, ex-presidentes, milionários ao redor do mundo e muitas pessoas mais inteligentes que ele.
Ao mesmo tempo em que é assustador, a ironia de Gaspar com os termos que usa quase faz com que o leitor ria da insanidade que está descrita diante dele, até ele lembrar que tudo aquilo aconteceu de verdade. A jornalista entrevistou mais de 100 pessoas para conseguir todas as informações detalhadas em narrativa pelo livro. Aquela máxima quase se adequa neste caso, mas invertida: “Seria cômico se não fosse trágico”.
Depois da leitura, uma pesquisa rápida revelará que Eike atualmente “deu a volta por cima” ao passar a frequentar a Assembleia de Deus. Parece piada, como quase tudo no livro Tudo ou Nada: Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X. Enquanto muitos questionam se ele é louco ou não, talvez a melhor pergunta seja: quem é mais louco? Porque praticamente todo o Brasil seguiu Eike e parece que muitos ainda o fazem.