Causador de frisson no festival de Sundance, esta produção independente finalmente chega ao Brasil. Como várias outras que estão nas listas do Oscar, chega em fevereiro para aproveitar a publicidade gratuita da premiação. Porém, a distribuidora errou feio em suas apostas e Fruitvale Station não ganhou uma indicação sequer. O que é uma pena.
O filme abre com uma cena gravada por um celular. A imagem do aparelho mostra um grupo de policiais agredindo alguns jovens em uma estação de trem. De repente ouvimos um tiro. Voltamos algumas horas e estamos no começo do dia de um desses jovens. Fica bem claro, o filme vai contar o último dia de vida daquela pessoa que levou o tiro.
É uma proposta muito semelhante ao Jean Charles, mas com muito mais profissionalismo. O filme com o Selton Mello sofria com o estilo de guerrilha de seu diretor, o que causava problemas sérios de enquadramento e montagem. Além de uma exploração que descamba para o humor involuntário no final. Fruitvale Station é feito com muita eficiência e sua construção é muito bem realizada.
Por outro lado, Jean Charles acertou em manter uma imagem que foge do maniqueísmo, tal qual Fruitvale Station. Assim como o brasileiro assassinado na Inglaterra, Oscar Grant não era uma pessoa completamente boa. Todos os seus erros e pecados pesam forte em sua vida, mas nada justifica o comportamento ao qual foi exposto.
Oscar é um ex-presidiário que precisa lutar constantemente para manter a relação com sua família. Como toda pessoa, precisa lidar com as consequências de seus erros passados, que são ter se envolvido com o tráfico e ter traído a namorada.
Oscar não é mal. Todas as vezes que se envolveu com o crime foi por necessidade financeira (o que não justifica, apenas é compreensível) e se arrepende profundamente de tudo o que já fez para o separar de seus entes queridos. Ainda assim, todo mundo o lembra constantemente de que já foi preso e deixam claro que esperam que ele erre novamente.
Ele tenta não perder o emprego, não perder a namorada, não perder contato com a filha e não perder a fé da própria mãe. É uma situação desesperadora. Ele precisa prover, ao mesmo tempo em que sofre preconceito e não consegue emprego. Ainda assim, o caminho mais fácil está proibido porque é ilegal.
Tantas dificuldades criam identificação com Oscar. Tal identificação aumenta ainda mais quando um ator como o Michael B. Jordan o faz com tanta simpatia. Apesar de todos os seus erros e problemas, ele é um pai carinhoso, um namorado preocupado, e um filho amoroso.
Daí surge o grande problema do filme. É tanto esforço para que o espectador goste de Oscar que fica conveniente demais. No mesmo dia ele consegue convencer a namorada de que não vai mais trair, perde o emprego de vez, avisa a companheira, decide largar o tráfico, consegue um novo contato empregatício e morre. São muitas coisas que mudam uma vida em apenas 24 horas.
Ainda assim, quando o vemos embarcar no trem para ir curtir a virada de ano, já vamos com o coração apertado. Sabemos o que vai acontecer e não queremos ver. Apesar do exagero na simpatia, funciona. Gostamos de Oscar. Por isso mesmo, todo o terceiro ato do filme é acompanhado por lágrimas e sons de pessoas engasgando na sala de cinema.
A história de Oscar é bonita e triste. Também serve para apresentar aqueles eventos para o resto do mundo e explicar como a luta por violência desnecessária é importante. Antes de entrar na sala, prepare-se para o soco no estômago.
ALLONS-YYYYYYYYYYYYYY…
1 comentário em “Fruitvale Station – A Última Parada”