O Homem-Aranha estará no universo cinematográfico Marvel. Os nerds ficaram loucos. Alguns disseram que era o sonho de vida realizado. Quero acreditar que vai ficar legal, mas é tão difícil alguém acertar o tom do personagem em uma história comprida como o cinema pede sem virar uma galhofa estúpida como O Espetacular Homem-Aranha 2. E pensar que teremos que ver o tio Ben morrer de novo é apenas mórbido. Qual seria a melhor abordagem para o novo filme do herói?
Levemos em consideração que Homem-Aranha 3 foi lançado em 2007 e que a nova versão sairá por aí em 2017. Significa que, em menos de dez anos, os cinemas mundiais terão visto três versões diferentes do Peter Parker. Felizmente, existem variações do herói que não contam com a presença do adolescente do Queens.
No universo Ultimate, Peter morre em um confronto e um garoto negro de 13 anos do Brooklyn é mordido por outra aranha modificada. Nas histórias recentes, estúpidas e malucas do Homem-Aranha, Peter teve o corpo tomado pelo Doutor Octopus (não vamos contar com essa presença na lista) e confrontou versões de outros Aranhas de outras dimensões. Um desses era a Mulher-Aranha, cuja identidade era Gwen Stacy. A melhor coisa dessa saga bizarra do cabeça de teia. Vamos detalhar os dois um pouco mais.
Miles é um jovem negro e pobre do Brooklyn. Ao visitar o tio bandido, sem querer é picado por uma aranha de uma bolsa que o parente roubou de um laboratório. Ele se descobre com os poderes do Homem-Aranha dias antes do próprio morrer publicamente em um confronto. A identidade dele, Peter Parker, é revelada. No velório, Miles escuta da Gwen Stacy que Peter se vestia como o herói porque tinha o lema de que “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”.
Com o peso da herança dos poderes, Miles sai por aí para ajudar as pessoas. Precisa equilibrar essa vida com a bolsa escolar que conseguiu em uma escola particular caríssima e os conflitos da família. Ele descobre que o pai já foi preso quando mais jovem e tem medo de carregar essa criminalidade como parte de si. O primeiro inimigo dele é o tio em uma história muito bem escrita.
Miles também conta com diferenças. A aranha que o picou era de um tipo diferente da de Peter. Ele tem capacidade de mimetização que lhe permite mudar de cor para se misturar ao ambiente e uma pequena dose de veneno que imobiliza os inimigos. Por outro lado, ele não tem teias e não pode se pendurar por aí, apenas pular e escalar paredes.
Brincalhão com background problemático, Miles poderia render um ótimo filme com os títulos Homem-Aranha. Esquece a morte do tio Ben, pode até usar o Andrew Garfield em um enterro rápido. Basta que o filme seja bom.
Em uma realidade paralela, na visita ao laboratório com a escola, a aranha modificada não escolhe picar o nerd esquistão, mas a loira bela, estudiosa e apaixonada por ele. Gwen vira a Mulher-Aranha e passa a defender Peter de bullying na escola. Os valentões ficam piores, Peter sofre tanto que se mete com um supervilão e acaba morto acidentalmente em um confronto. Para piorar, ele morre nas mãos da namorada, que é culpada publicamente pelo ocorrido.
Em desespero com a morte do sobrinho, Benjamin Parker faz um discurso público contra a Mulher-Aranha com a alegação de que “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Gwen carrega o lema consigo. Como se não fosse o bastante, o pai da garota é o capitão da polícia e gasta todos os esforços para prendê-la. Para lidar com o sofrimento, ela se junta à banda da amiga Mary Jane como baterista.
Peso, consequências negativas, perseguição e responsabilidade. Gwen ainda é brincalhona e carrega todas as qualidades do Peter Parker original para a revista dela. Por que não um filme com a Emma Stone como Mulher-Aranha? Mata o Andrew Garfield no começo e eu já aplaudo. Principalmente se o roteiro e a direção forem bons.
Antes de Mary Jane ou até de Gwen Stacy, a vida romântica de Peter Parker se resumia a um quadrado amoroso feito de encontros e desencontros com Liz Allen, Betty Brant e Flash Tompson. Nas primeiras edições do Homem-Aranha logo após ele ter sido criado pelo Stan Lee, o texto era terrível, assim como os desenhos. Mas diversas ideias dessa fase são muito legais.
Peter não possui nenhum amigo na escola. Apenas uma garota, uma loira chamada Liz, se apieda quando todos zombam dele pelas costas. Como Homem-Aranha, ele precisa se segurar para não machucar nenhuma das pessoas que o atazanam todos os dias. Ao começar a vender fotos para o J. Jonah Jameson, ele encontra outra jovem, a secretária Betty Brant. Ela tem a idade de Peter, mas foi forçada a largar os estudos para sustentar uma crise familiar. Mais madura que as colegas de escola, ela chama a atenção dele imediatamente.
Ao mesmo tempo, alguns do maiores e mais famosos vilões da franquia davam as caras. Abutre, Electro, Doutor Octopus, Homem Areia, Mistério e por aí vai. Entre enfrentar o crime, lidar com o abuso na escola e equilibrar os encontros entre Liz e Betty (uma provocava a outra descaradamente), Peter ainda precisava ajudar a tia May, que tinha saúde frágil. Em uma das melhores histórias, precisa juntar dinheiro para pagar uma cirurgia para a tia, prender o Electro, ajudar a Betty no escritório e lidar com o Flash Tompson (o principal bully na escola) que se vangloria por estar com Liz.
O cabeça de teia já teve fases mais tensas, difíceis e bem escritas, mas essa é divertidíssima. Ele não consegue parar de zombar dos inimigos e de Jameson, a vida romântica não fica estável, precisa pagar contas, cuidar da parente idosa em casa e ainda enfrenta um supervilão. Tudo isso sem história de origem. Basta um comentário sobre a morte do tio Ben para ter noção do background do herói.
Arranje um ator adolescente para viver Peter mais jovem, esqueça Mary Jane e Gwen Stacy pelos dois ou três primeiros filmes e foque-se em vilões humanos e interessantes. Dá pra fazer Homem-Aranha por alguns anos.
FANTASTIC…