Texto de Leonardo Costa.
A essa altura, com a proximidade dos Oscars, já existe no público cinéfilo uma certa expectativa sobre o que é o filme “A Garota Dinamarquesa”. Por alto, é o relato histórico da primeira pessoa transexual a passar pela cirurgia de mudança de sexo. Eu fui para a sala de cinema esperando uma narrativa com um certo cunho político/social, sobre a luta desta pessoa para assumir a identidade. Este diálogo também está no filme, mas ganha um caráter secundário. O que surpreende é que esta é uma história profundamente intimista.
De início, somos apresentados a um jovem casal de pintores: Einar e Gerda Wegener. Einar pinta paisagens e tem certo reconhecimento entre seus compatriotas, enquanto sua esposa Gerda se esforça para exibir os retratos que desenha nas galerias de Copenhagen. Eles são um casal notoriamente apaixonado, têm uma vida doméstica invejável e estão tentando ter um filho. O cachorro, já têm.
Um dia, por acaso, a modelo de Gerda falta uma sessão e ela pede para Einar posar no seu lugar. A partir deste momento, de pouco a pouco, o casal vai descobrindo Lili. Acompanhamos a construção desta nova identidade e seu crescente desconforto dentro do corpo de Einar.
Einar tenta “curar-se”, procura auxílio médico, mas é tratado pela medicina preconceituosa e rudimentar do início do século 20. Há momentos em que Gerda reluta em abrir mão de seu marido, mas sobretudo, é uma figura tenra e compreensiva, encontrando a sua verdadeira expressão artística quando pinta quadros de Lili.
Enfim, ambos decidem aceitar Lili e lutar por sua plenitude.
Lili quer ser uma mulher completa, Lili quer ter um marido e quer engravidar.
O filme é centrado na dinâmica do par. A fotografia e a linguagem visual são extremamente competentes. As atuações são excelentes. Alicia Vikander como Gerda é uma mulher forte e ousada.
Eddie Redmayne entrega de novo uma baita duma carga dramática. Einar e Lili são muito sensíveis. Cada olhar e cada toque dizem bastante. Sutileza é a palavra-chave. O ator transita por entre a melancolia, a fragilidade e genuína euforia algumas vezes. Apesar de já ter ganhado a última edição do prêmio é um forte competidor esse ano.
Esta é uma história de amor e devoção. O filme gera um forte sentimento de empatia e causa reflexões sobre a identidade e a essência de quem somos.