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Globo Filmes versus Kleber Mendonça Filho

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Esse indivíduo aí em cima é o Kleber Mendonça Filho, carinha que dirigiu O Som ao Redor. Aquele maravilhoso filme nacional que vem recebendo elogios de todo o mundo. Literalmente, o cara foi indicado pelo trabalho através dos Estados Unidos e está viajando no momento em busca da venda de sua obra por aí.

Foi nesse trânsito que ele acabou dando uma entrevista à Folha de São Paulo. Nela, foi bem conciso em dizer que os filmes da Globo Filmes são sucessos por causa do investimento em publicidade, e não por suas qualidades. Disse inclusive que a tese dele é a de que até o seu vizinho pode fazer um filme que consiga 200 mil espectadores no primeiro final de semana com o apoio da Globo Filmes.
O diretor-executivo Carlos Eduardo Rodrigues, da Globo Filmes, respondeu em um e-mail público desafiando Mendonça Filho a fazer um filme com o apoio da Globo Filmes e conseguir 200 mil espectadores, caso ele conseguisse não teria que pagar nada, caso não conseguisse teria que admitir publicamente que como diretor é um ótimo crítico de cinema.
Para responder ao desafio, Kleber Mendonça Filho foi ao perfil de seu filme no facebook e deu a sua declaração:

“Estava em trânsito o dia inteiro, cheguei em Istambul onde O Som ao Redor será exibido nos próximos dias. O Facebook e a imprensa fervilham com nosso embate. Preciso lhe agradecer pelo desafio, mas sua proposta associa a não obtenção de uma meta comercial (200 mil espectadores) como prova irrefutável de que eu não seria um cineasta. Isso não me parece correto, pois o valor de um filme, ou de um artista, não deveria residir única e exclusivamente nos número$. Sobre ser crítico ou cineasta, atuei como ambos e meu discurso permanece o mesmo, e sempre foi colocado publicamente, e não apenas em mesas de bar: o sistema Globo Filmes faz mal à idéia de cultura no Brasil, atrofia o conceito de diversidade no cinema brasileiro e adestra um público cada vez mais dopado para reagir a um cinema institucional e morto. Devolvo eu um outro desafio: Que a Globo Filmes, com todo o seu alcance e poder de comunicação, com a competência dos que a fazem, invista em pelo menos três projetos por ano que tenham a pretensão de ir além, projetos que não sumam do radar da cultura depois de três ou quatro meses cumprindo a meta de atrair alguns milhões de espectadores que não sabem nem exatamente o porquê de terem ido ver aquilo. Esse desafio visa a descoberta de novos nomes que estão disponíveis, nomes jovens e não tão jovens que fariam belos filmes brasileiros que pudessem ser bem visto$, se o interesse de descoberta existisse de membro tão forte da cadeia midiática nesse país, e cujos produtos comerciais também trabalham com incentivos públicos que realizadores autorais utilizam. Não precisa me incluir nessas novas descobertas, gosto do meu estilo de fazer cinema. Ainda estou no meio de um grande desafio com O Som ao Redor, 9 cópias 35mm, mais algumas salas em digital, chegando aos 80 mil espectadores em 8 semanas, e com distribuição comercial em sete outros países. A maior publicidade de O Som ao Redor é o próprio filme. Para finalizar, esses embates são importantes, fazemos cinemas diferentes, em geografias diferentes. Obrigado, tudo de bom. Kleber”

Com essa elegância, o pernambucano conseguiu deixar claro problemas sérios do cinema nacional.
Fica claro o quanto esse Cadu Rodrigues deve entender de cinema. Aproximadamente cinquenta anos atrás, um grupo de críticos resolveu se envolver com direção. O resultado foi a Nouvelle Vague, apenas um dos movimentos mais importantes e revolucionários de toda a história da mídia.
Mendonça Filho era crítico antes de fazer seu Som ao Redor. E seu filme é uma demonstração do que é cinema de qualidade de verdade. Ter que ler as coisas que algum grande nome da Globo Filmes escreveu deve ter sido doloroso.
Bato palmas para o texto resposta de Mendonça Filho e como com palavras ele conseguiu derrubar sozinho uma das grandes autoridades de um monopólio que atrasa o Brasil culturalmente.
Fonte: Vortex Cultural.
 
GERÔNIMOOOOOO…

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