Quando se fala em filmes de monstros gigantes, a grande referência que vem à mente é Godzilla. Criado em 1954, com o filme que leva o nome dele, o personagem é um dos maiores ícones da cinematografia japonesa e carrega consigo uma tradição do tipo que raramente recebe o devido respeito em países ocidentais. Até o lançamento de outro filme intitulado Godzilla em 2014.
Depois da destruição do Havaí, de Las Vegas e de São Francisco no filme anterior, a humanidade busca compreender as criaturas gigantes (agora chamadas de titãs), onde elas estão, como podem ser mortas, e quantas são. À frente disso tudo, está a empresa Monarch, que os investiga desde a década de 1970, e um grupo de ecoterroristas, que acreditam que os titãs são o meio natural da Terra de se curar dos humanos.
Assim, fica nas mãos de Michael Dougherty, diretor e roteirista da vez, de dar continuidade à história e ao estilo iniciado em 2014. Ou seja, ele tem que fazer um filme que retrate o Godzilla como uma relação da humanidade com o planeta, na tendência que o monstrengo sempre seguiu nos filmes japoneses, e ainda ser um grande espetáculo de ação e efeitos especiais.
O que faz a escolha do realizador compreensível. Além de um eficiente diretor de horror e ficção-científica (são de Dougherty os filmes Contos do Dia das Bruxas e Krampus: O Terror do Natal), ele sabe trabalhar com grandes produções (roteirizou filmes de super-heróis como X-men 2), e ainda é um grande fã das versões japonesas do Godzilla.
Por isso, ele traz para acompanhar o lagartão, os três monstros mais populares da franquia: Rodan, Ghidorah e Mothra. Além de colocar o compositor Bear McCreary para adaptar os temas clássicos do Godzilla e da Mothra para versões orquestradas que seguem o estilo épico da produção. É um festival de serviços voltados aos fãs do material original, até as fadas da ilha Infant são referenciadas no filme.
Ao mesmo tempo, Dougherty tem noção de que o universo dos estúdios Toho envolvem um diálogo difícil com o público americano, o que rende inúmeras piadas através do filme sobre as características mais “bizarras”. Num dos melhores momentos, um personagem zomba do formato de Rodan ao compará-lo com um personagem da Vila Sésamo.
Na estrutura de roteiro, a narrativa segue muito do padrão do filme de 2014, com o foco no grupo de humanos que seguem as criaturas e tentam ajudá-las ou combatê-las. Os cientistas e militares da Monarch, liderados pelo casal Mark (Kyle Chandler) e Emma Russell (Vera Farmiga) e pelo doutor Serizawa (Ken Watanabe) se desesperam e buscam salvar o mundo, enquanto explicam por meio dos diálogos o que acontece em tela para o público.
Algumas exposições soam repetitivas e desnecessárias. Especialmente quando alguém comenta algo que os titãs acabaram de fazer em cena. Em certo ponto do clímax, um dos monstros ataca outro com brutalidade, e um personagem faz piada dizendo que ele foi sobrecarregado. O humor das falas quase nunca faz rir e descaracteriza cientistas que deveriam levar as coisas mais a sério.
A pior parte fica quase sempre por parte do personagem Mark. Por ser o protagonista humano do filme, sempre percebe as coisas antes dos outros e parece mais inteligente e eficaz até que os militares. É uma daquelas tentativas de fazer uma pessoa parecer mais sagaz ao fazer com que todo mundo ao redor ser mais lento (o que é absurdo em um contextos de cientistas).
Na filmagem, Dougherty também segue parte da estética do filme anterior. Com foco nos humanos na ação, as imagens dos monstros gigantes são feitas de planos na altura das pessoas em cena. À medida em que as sequências abrem mãos dos personagens menores para seguir as lutas dos titãs, a câmera abre e fica em níveis mais altos, para assumir os pontos de vista dos bichões. Desse estilo, se destacam dois planos longos em que personagens humanos correm no meio das brigas dos monstros a câmera os segue enquanto os cenários digitais se destroem ao redor.
Para a iluminação, o diretor aproveita a bioluminescência dos gigantes para criar padrões de cores que ditam quem são os heróis e os vilões. Quando algo está errado, ou há intenções de destruição, tons quentes como o vermelho e o laranja ditam as cenas. Para os monstros do bem, em especial Godzilla e Mothra, as cores azuis tomam a tela.
É um espetáculo para agradar os fãs originais e apresentar as criaturas para novas audiências. Há beleza de sobra nos enquadramentos, nos designs, e até nas batalhas de larga escala. No entanto, é possível que Godzilla e o estilo japonês do monstro seja mais lento para públicos ocidentais. Especialmente porque Dougherty aproveita a produção para discutir a relação entre humanos e o planeta.
P.S.: Há uma cena pós-créditos.
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