Como escrever sobre Gremlins 2? A continuação do sucesso de 1984 faz tantas coisas que tentar falar tudo o que o filme merece que seja discutido ou comentado provavelmente resultaria em um livro. Joe Dante dá adeus para o clima de terror, levanta uma discussão superficial sobre corporativismo e se solta para fazer uma grande comédia pastelão.
Billy Peltzer agora trabalha em uma empresa gigante de Nova Iorque como arquiteto. Descobre que o Mogway Gizmo está preso na área de pesquisa com animais e vai tentar salvar o bichinho. Uma série de problemas farão com que as três regras fundamentais para tratar a espécie sejam quebradas aos poucos. Agora os Gremlins estão soltos no prédio e Billy precisa matar a todos antes que a noite venha e eles consigam ficar livres na cidade.
Se o primeiro fazia um terror B de grande orçamento brincando com elementos de pastelão para fazer rir mesmo durante mortes e violência, este segundo abraça de vez o humor. Antes, os Gremlins eram como personagens dos Looney Tunes, mas os humanos ao redor eram limitados e morriam quando confrontados com o exagero físico dos monstrinhos. Agora até os humanos são fisicamente cômicos. A crítica à sociedade conservadora é deixada de lado para satirizar sem piedade o capitalismo e as grandes empresas.
Parte do elenco original reaparece. Até o vizinho bêbado que tinha morrido.
Charles S. Haas entra como roteirista no lugar de Columbus e faz algo relativamente parecido com o primeiro filme. O primeiro ato reapresenta três dos personagens do original e as diversas áreas do prédio a ser destruído pelos Gremlins. É tudo uma grande desculpa para que os bichos façam piadas. O andar de alimentação é de onde tirarão comida depois da meia noite e serão confundidos com infestação. O andar de pesquisa científica (com direito ao Christopher Lee interpretando um cientista maluco e várias referências como Invasores de Corpos, Drácula e diversos filmes de terror típicos da década de 1950) criarão asas de morcegos, inteligência humana, habilidades de aranhas e até troca de sexo. Se o humor ganha destaque, o ritmo perde um pouco de qualidade. Após o rápido primeiro ato, o filme desenvolve um longuíssimo segundo ato de pastelão que não cansa por nunca perder a piada, mas não desenvolve a história.
Dante parece que sabia que não havia muita desculpa para fazer outro filme dos bichos verdes e brinca com isso em diversas cenas. Na parte de TV do prédio, os Gremlins atacam um crítico de cinema que está fazendo uma resenha negativa do primeiro longa. Em certo ponto, sugere que a anarquia do filme é tal que os bichos invadiram até a sessão do espectador. É uma piada hilária, com direito a referência a Hitchcock. A direção de arte ganha com isso. Tem Gremlin de tudo quanto é tipo, o prédio é recheado das típicas invenções futuristas do passado, em que toda ligação de telefone possui imagem das pessoas falando, mas todas as telas são analógicas. Outra área técnica que brilha mais são as animações em stop-motion. Gizmo ganha uma cena de dança em que vai muito além das limitações do robôzinho que sempre o interpretou. Os fantoches também são um espetáculo, com destaque para o Gremlin inteligente, que mistura o tom anárquico com jargão científico.
Gremlin inteligente questiona o valor da produção.
Gremlins 2 é claramente uma continuação desnecessária. Os realizadores sabiam disso tão bem quanto qualquer outra pessoa. Por isso mesmo se divertiram com os potenciais dos monstros do título. Se o espectador participar da brincadeira, vai se divertir muitíssimo com um filme que nunca para de questionar a própria ambientação.
BRIGHT LIGHT! BRIGHT LIGHT!
Filme completamente maluco… Excelente texto de análise… Já agora, o meu texto sobre o filme está em http://revoltadapipoca2.blogspot.pt/2016/02/gremlins-2-new-batch-1990.html