O envelhecimento e a autoaceitação são colocados em pauta no primeiro longa-metragem de Armando Praça, que também assina o roteiro. Inspirado no espetáculo Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, da década de 1970, o novo filme é protagonizado por Marco Nanini, com participações de Denise Weinberg, Démick Lopes e Gretta Sttar.
Conhecido principalmente pela carreira televisa, com destaque para os 13 anos em que interpretou Lineu, em A Grande Família, Nanini encara um papel muito diferente do que o país está acostumado a vê-lo fazer. O que é, sem dúvidas, bastante positivo. Como o próprio diretor descreveu, em coletiva de imprensa em São Paulo, Pedro é “um excluído, um personagem muito difícil de você encontrar: um homossexual de 71 anos” que “quer amar e ser amado”. O público acompanha tanto momentos que ele passa no trabalho, como enfermeiro, quanto a vida pessoal e a identificação que sente com a diva hollywoodiana Greta Garbo.
Outro fator interessante é o ator veterano expor em tela, junto com Pedro, o envelhecimento – assunto que, no geral, tem a retratação vista como um tabu. “Eu já tinha um desejo de mostrar o meu envelhecimento físico aos telespectadores. O cinema é, em sua grande maioria, de personagens jovens e belos e busca isso do galã e da juventude, desde sempre”, enfatizou Nanini. E a idade é ressaltada, inclusive, por diversas cenas que exploram a nudez e a vida sexual do enfermeiro que, apesar de ter como mantra a frase clássica “I want to be alone” (“quero ficar sozinha”, em tradução livre), dita por Garbo no longa Grande Hotel (1932), é bastante contraditório. E isso o torna ainda mais interessante.
Enquanto a peça tem teor cômico, a película se utiliza da estrutura do melodrama, perpetuada no cinema por importantes nomes, como do diretor alemão Douglas Sirk (Imitação da Vida), citado como referência pelo diretor, e da homenageada Greta Garbo. Praça contou que a escolha por mudar o gênero veio do incômodo sentido ao assistir à peça em que o filme é inspirado. Desde então, ele sentiu um desejo e necessidade de mostrar o personagem principal de uma forma que “não pela caricatura, deboche e escracho”.
E não é apenas o protagonista que representa figuras marginalizadas na sociedade. Denise Weinberg faz Daniela, mulher transexual e melhor amiga de Pedro, e Démick Lopes vive Jean, que acaba de cometer um crime grave e foge da polícia. Ambos, apesar de não serem profundamente retratados – o que, por vezes, incomoda – têm momentos de grande sensibilidade mostrados.
Com as câmeras mais paradas e o protagonista majoritariamente em primeiro plano, de modo a fazer com que o público enxergue os acontecimentos pela visão de Pedro, Greta é um filme que flui vagarosamente e, claro, devido ao teor, pode ser pesado. Logo, deve ser assistido por quem estiver disposto a passar por momentos reflexivos e não pretenda apenas se distrair da vida corriqueira. Além da memorável atuação de Nanini, o filme se destaca, principalmente, pelos assuntos que tange. Não tem como negar a importância de retratá-los, ainda mais em tempos em que o ódio reina.
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