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Guerreiro (Warrior – 2011)

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Desde que começou a fazer sucesso, sempre que se fala em Tom Hardy, alguém rapidamente lembra das interpretações dele em Bronson e neste Guerreiro. A obra também é referência obrigatória para o diretor Gavin O’Connor, o que fez a produção ser levantada em discussões depois que O Contador foi lançado em 2016.

No filme de luta, Brendan (Joel Edgerton) é um professor de ensino médio e pai de duas filhas com dívidas que podem custar a casa onde vive. Como tem treino em MMA (Mixed Martial Arts – Artes Marciais Misturadas em tradução literal), começa a se envolver em lutas e torneios para tentar conseguir o dinheiro. Em paralelo, Tommy (Hardy) volta do exército e passa a treinar com o pai, um especialista em lutas, para conseguir arrecadar dinheiro para a esposa de um amigo que morreu na guerra. Apesar de não se falarem, os dois são irmãos e entram no mesmo torneio.

A ideia é primorosa. Um filme de luta com dois protagonistas com raiva mútua entre si e com direito a todos os clichês do subgênero: o momento de treino, boas razões dramáticas para lutar, cenas bem coreografadas e o grande conflito final.

De uma inspiração tão boa, Gavin O’Connor apresenta um roteiro muito bem escrito, que fez com os parceiros Anthony Tambakis e Cliff Dorfman. Há um equilíbrio cuidadoso para que os confrontos entre Brendan e Tommy não se tornem mais importantes um que o outro. Quando se alcança o torneio final, o espectador tem dificuldade em saber por qual dos dois deve torcer. Por outro lado, o enredo segue tantas reviravoltas absurdas que é praticamente impossível acreditar em diversas coisas que ocorrem em cena.

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Tom Hardy parece um animal raivoso como Tommy.

Em certo ponto, é dito que Brendan tem mais de 30 anos e não luta a cerca de 10. Então a trama tenta sugerir que ele, depois de algumas semanas ou meses de treino, consegue se classificar como um dos 16 maiores lutadores de MMA do mundo em um torneio. Esse tipo de problema de lógica se repete aos montes, para que Brendan e Tommy possam se enfrentar no clímax.

O’Connor dirige com câmera tremida e fotografia granulada e cinzenta. A intenção é fazer com que a produção pareça mais verossímil com um tom documental. Funciona para criar uma noção de crueza nos diálogos. Afinal, trata-se de pessoas com mágoas que exprimem palavras doloridas e o estilo torna tudo mais visceral.

Funcionaria melhor se a montagem não tivesse problemas de continuidade. A proposta de verossimilhança documental é perdida quando um corte faz com que Tommy mude de posição durante um diálogo ou, especialmente nas sequências de treino, os cortes parecem um videoclipe musical. Uma técnica não dialoga bem com a outra.

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Edgerton transparece humanidade com o olhar.

Um dos grandes trunfos da produção se encontra na coreografia. As cenas de luta parecem reais, assim como os golpes dados. O’Connor sabe dar espaço com as câmeras para que seja possível ver os detalhes e filma com poucos cortes, para dar tempo de assimilar os movimentos completos.

A trinca de atores principais, porém, são a maior qualidade. Que Hardy é um grande ator não é segredo pra ninguém atualmente. Ele sabe construir personagens com pequenos detalhes gestuais e sonoros. Para Tommy, ele fica constantemente encurvado, como se carregasse um peso nas costas e se estivesse retesando os músculos. Quando está com raiva, parece um animal sem rumo. Edgerton, infelizmente, não é tão reconhecido quanto merece. O ator transpira humanidade com o olhar. É possível saber se ele tem ódio, amor ou tristeza apenas com a expressão facial.

Mas os dois são ofuscados sempre que Nick Nolte entra em cena como o pai de ambos. Ele é um homem que lida com a culpa de ter sido um alcoólatra e ter magoado e traumatizado os filhos. Nolte realmente parece estar com dor e remorso em todas as cenas, mas em duas no fim do filme, ele rouba a produção e vai embora com ela. Não é à toa que foi indicado ao Oscar pela participação.

Guerreiro é um típico filme de luta com um sabor diferente. Apesar de O’Connor se esforçar para contar uma história dura e ainda com o ritmo do subgênero, os dois não funcionam tão bem em conjunto. Ele diverte e sustenta a atenção pelas mais de duas horas de duração, mas, quanto termina, é facilmente esquecível.

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