Em tempos de discussões sobre terrorismo, invasão de privacidade por meio de tecnologias e muitos golpes com meios digitais, não é incomum encontrar filmes sobre ciberterrorismo. Até o último Velozes e Furiosos explorou a temática. Era de se esperar que um diretor do calibre de Michael Mann faria uma obra séria e bem feita sobre o assunto.
Depois que dois ataques de ciberterroristas explodem um reator nuclear na China e altera números da bolsa de valores, a CIA e o governo chinês se unem para procurar pelos responsáveis. Para ajudar, é oferecida uma proposta para o hacker Nick Hathaway (Chris Hemsworth). Se ele conseguir ser importante para a captura dos culpados, terá a pena reduzida.
Trata-se, então, de forma bem clara, de uma investigação de caça aos bandidos, com o diferencial de usar outro criminoso para a busca (o que não é nem um pouco original). A intenção de Mann é fazer um suspense de ação com bastante tiroteio e tensão entre os protagonistas.
Mann usa o máximo do estilo dele para contar essa história, e por isso o filme se assemelha muito às obras cheias de tiroteios e personagens introspectivos do diretor, como Fogo Contra Fogo, Miami Vice e Inimigos Públicos. O que pode funcionar maravilhosamente, como no primeiro filme citado, assim como pode ficar problemático, como no segundo.
O grande problema no estilo de Mann é que a seriedade que ele imprime na obra exige equilíbrio por parte do roteiro e da montagem. Se os dois renderem também um ritmo de cenas e situações envolventes, o resultado final é primoroso. Mas se for como no texto de estreia de Morgan Davis Foehl para este Hacker, a produção fica longa e lenta.
Nenhum dos personagens tem aprofundamento. Eles apenas se encontram para resolver o problema, discutem de forma séria e profissional e vão investigando. Era para Hathaway ser o diferencial, por ser o criminoso revoltado e com atitude, mas ele não é. Apenas entra na equipe e age como todo o resto. E por ter a incoerência de ser um loiro imenso de olhos azuis que é um dos ex-alunos mais inteligentes do MIT, ele simplesmente grita para o espectador os problemas de construção dos personagens.
Depois ele desenvolve um romance com outra integrante da equipe, Wei Tang (Chen Lien), que não tem fundamento para a relação. Eles caminham juntos e mal se falam e, de repente, começam a se beijar e a fazer sexo. Mais tarde, o irmão dela diz que nunca a viu tão feliz, mesmo sem que eles nunca dialoguem.
O fato de os personagens não terem personalidade faz com que o espectador não crie empatia por eles. E como o filme fica muito tempo sem desenvolver a ação e o suspense, parece que a primeira hora é um drama sobre pessoas sem vontade ou conflito. É com quase 90 minutos de produção que Hathaway realmente se envolve em um confronto interessante. Mas, como o espectador já queria sair da produção há mais de uma hora, ele não se importa mais.
Do estilo de Mann, Hacker mantém os tiroteios primorosos. Isso vai da forma como ele filma ação, com câmera de mão, que dá a impressão de que o espectador está entre os personagens na troca de tiros, e da parte técnica, que tem efeitos sonoros de armas de fogos que parecem mais duros e verossímeis que os das maiorias de filmes. Para acrescentar a essa sensação, quando um personagem leva um tiro, dá para ver no movimento dos atores e na forma como os efeitos práticos de ferida se abrem que é uma porrada com energia, que dói e tem efeito nos corpos deles.
Mas são apenas três tiroteios bem feitos em um filme de ação de quase duas horas e meia. O resto é preenchido com o texto fraco do roteiro. Bons atores como Hemsworth e Viola Davis não acrescentam em nada porque os personagens são muito fracos e inexpressivos. E Hacker, como um todo, é uma experiência muito negativa e cansativa para quem o assiste. Quase o contrário do resto da carreira de Michael Mann.