Hércules (também conhecido como Héracles. Varia com a fonte e a mitologia) ganha mais uma adaptação para os cinemas. A segunda do ano e, desta vez, adaptada de uma série em quadrinhos. O novo rosto do famoso herói grego é do Dwayne Johnson, que você provavelmente conhece como The Rock, o lutador de WWE que virou ator de sucesso. O diretor, corram para as montanhas, é o Brett Ratner. E o filme, acredite se quiser, não é o que ninguém estava esperando.
Hércules (Johnson/Rock) e um grupo de mercenários que o acompanham são contratados pelo rei Cotys (Hurt), de uma região mais bárbara, para treinar seu exército e salvar o reino de uma insurgência civil. A tarefa vai fazer com que o herói confronte os lados obscuros de seu passado.
Talvez criticar este Hércules seja uma das tarefas mais difíceis que alguém pode tentar realizar. Principalmente porque as características mais positivas do filme são justamente as que considero importante esconder para aprimorar a experiência de assistir à produção. Uma das grandes sacadas do filme é a forma como ele está sendo vendido. Todo o material promocional vende ele como um filme sobre o Hércules realizando os doze trabalhos ordenados por Hera para se provar merecedor da aceitação da deusa. Porém, essa não é a proposta do filme. Entretanto, só por ter dito isso, já disse demais.
Parece a chance do musculoso Dwayne Johnson de fazer seu Conan. Ou seja, um filme de brucutu que o colocará no hall dos grandes astros de ação. Mas, mais uma vez, não se trata disso. E, mais uma vez, estou falando demais. Felizmente as revelações que coloco aqui são o mais vagas possíveis. Infelizmente não posso tratar delas para falar sobre as boas surpresas que dão vontade de sair do cinema comentando.
Hércules e trupe. Reinvenção “moderna” do clássico.
Os roteiristas Ryan Condal e Evan Spiliotopoulos contam a história a partir do momento em que Hércules acabou de realizar os 12 trabalhos e seu nome é uma lenda conhecida por praticamente todas as pessoas da Grécia. A diferença é que, logo após seus feitos famosos, uma tragédia ocorreu com Hércules e diversos segredos sombrios, e ainda não resolvidos, são mantidos por ele e seus amigos. Pouco a pouco, pequenos diálogos e cenas dão noção desse passado e de seus mistérios.
Com este texto em mãos, Ratner faz um bom trabalho ao equilibrar tanta tragédia e drama pessoal com um estilo leve e divertido próprio aos típicos arrasa quarteirões de Hollywood. Se tem algo que Ratner sabe fazer, é filmar cenas de ação. Ele cria cenas que normalmente ficam toscas em outros filmes do estilo com muita eficiência. Ele é criativo para planos que capturam movimentos de luta, poderes e guerra. Hércules tem ótimas batalhas e grandes efeitos especiais em cenas que empolgam e envolvem. Com exceção do clímax, que se perde em meio ao vários furos de roteiro.
É preciso dizer que Ratner quer fazer um filme superficial de ação. É o que ele sabe fazer. Por isso mesmo ele faz bons filmes com um bom roteiro em mãos. No caso de Hércules, o resultado final surpreende com a reinvenção da proposta, mesmo com os defeitos genéricos que o estilo de filme acaba por render.
Chega a ser fácil zombar das falhas. O roteiro se permite ser falho para construir momentos apoteóticos e clichês que não surpreendem nem causam o resultado desejado. A direção de arte cria uma armadura para Hércules que não funciona visualmente porque o Dwayne Johnson é tão grande que os músculos da vestimenta não estão na posição correta do corpo dele. Uma outra armadura para uma coadjuvante é minúscula seguindo a lógica de que, se a mulher é gostosa, ela não precisa de proteção adequada. Existem erros de continuidade estúpidos aqui e ali. São as falhas que se espera de um filme desses. Basta ver o trailer que já se tem a noção da tosqueira que virá.
Ian McShane espera pela morte.
Dwayne Johnson é simpático e não é exatamente um mau ator. Ele não tem a capacidade dramática para carregar a tragédia do roteiro nas costas, mas também não puxa o filme pra baixo. O Ian McShane está se divertindo como um oráculo que previu a própria morte e luta sem medo por saber que sua hora ainda não chegou. O John Hurt também segue a cartilha de McShane soltando-se como o rei que usa os serviços do herói. O meu canastrão favorito, o Rufus Sewell, é uma espécie de coadjuvante cômico que vê em tudo uma piada. Aparecendo por menos de cinco minutos Joseph Fiennes, irmão sem talento de Ralph, recebe do personagem de Hércules o que muita gente tem vontade de fazer com sua carreira.
Apesar de todos os defeitos óbvios, Hércules termina com saldo positivo. Em grande parte pelo equilíbrio entre o tom de leveza e diversão com as reinvenções sérias em relação ao gênero e ao personagem.
ALLONS-YYYYYYYYY…
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