Texto de Renaro Cardozo.
O escritor infantil norte-americano Alvin Schwartz pode não ser muito conhecido pelo público brasileiro, mas sua série de livros Scary Stories chegou a ser banida das bibliotecas nos EUA, principalmente das escolares, por ser, entre outras alegações, mórbida demais para as crianças. Sim, era um autor infantil, mas de contos de terror.
Nas décadas de 1980 e 1990, Schwartz adaptou várias narrativas folclóricas das terras do Tio Sam nos livros Scary Stories to Tell in the Dark, More Scary Stories to Tell in the Dark e Scary Stories 3. Os três foram publicados no Brasil, sem muito alarde, na obra Histórias Assustadoras para Contar no Escuro em 2016.
Porém, até por ter sido banida, a série despertou a curiosidade de uma geração estadunidense que adorou voltar às raízes e narrar histórias de terror em voz alta no meio de um grupo de amigos.
E foi exatamente esse aspecto de contação de histórias em grupo da obra de Schwartz que motivou o produtor Guillermo del Toro e o diretor André Øvredal a fazerem Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark), que estreia nesta quinta, dia 8. Os dois comentaram em entrevistas que o intuito era justamente fazer um filme de terror para a família assistir reunida.
No entanto, deve-se ressaltar que o longa não é somente uma releitura, ele presta uma homenagem aos contos de Schwartz ao respeitar ao máximo o clima de terror e humor do escritor. Inclusive, os personagens sobrenaturais lembram bastante o traço do ilustrador dos livros, Stephen Gammell.
Para reunir alguns dos contos, Histórias Assustadoras não traz um enredo novo, pelo contrário. O filme apresenta um grupo de amigos adolescentes nem um pouco populares na escola que, numa noite de Halloween, decide invadir a mansão abandonada da família Bellows, considerada assombrada segundo uma lenda da pequena cidade de Mill Valley. Após a descoberta de um livro escrito por Sarah Bellows antes de morrer enforcada, coisas terríveis começam a acontecer com eles.
Mas não o desmereça por isso. Pois o diretor Øvredal parece ter aprendido com alguns erros do filme anterior, A Autópsia (The Autopsy of Jane Doe, 2016), e dessa vez focou mais no suspense investigativo e menos nos clichês dos longas do gênero. Outro acerto foi investir mais em fazer o telespectador sentir o medo e o desespero dos personagens do que fazê-lo pular da cadeira em sustos previsíveis.
O elenco é outro ponto positivo. Os atores mirins conseguem imprimir bem a tensão e humor das cenas. E a trilha sonora ganha muitos pontos ao não ser utilizada só para dar sustos, mas sim para construir a história.
Agora é só aproveitar o filme e, caso encontre uma casa abandonada por aí e queira testar sua coragem, entre e peça: “Sarah Bellows, me conte uma história”.