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Hitchcock

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Eu não sou exatamente o maior fã de cinebiografias. Normalmente elas não possuem foco narrativo, apenas vão mostrando momentos atrás de momentos importantes da vida de alguém. As melhores dão destaque para algum evento importante da vida da pessoa referenciada. Então foi uma alegria saber que o filme Hitchcock contaria o processo de desenvolvimento de Psicose.

Mas não é apenas isso. Hitchcock é também sobre a relação do diretor com sua mulher, Alma Reville.
Psicose foi um momento importante na carreira do cineasta. Após o lançamento de Intriga Internacional, um grande sucesso, Alfred Hitchcock é desafiado com sua idade e falta de inovação. Querendo ser original, resolve adaptar um livro sobre um tórrido caso de um assassino serial. Nenhum estúdio aceita fazer a produção e o diretor arrisca a casa pelo orçamento. Enquanto o filme, a carreira e as finanças ficam na balança, o diretor e a esposa têm o casamento colocado à prova.
O longa usa de uma direção de arte elaborada. Recria a época através dos figurinos, dos cabelos, das maquiagens, dos sets da Paramount, os carros. É tudo um trabalho de perfeição absoluta. A maquiagem deixou o Anthony Hopkins com a silhueta perfeita do diretor, apesar de não mudar sua feição. O que eu não acho um problema, ainda fica a ótima interpretação ali.
Somando a arte com a fotografia, que cria um brilho quase sobrenatural, o filme tem cara da década de 1950. O trabalho de pesquisa deve ter sido gigante. Eles recriam formas de filmagem antigas, legislações antiquadas e toda uma indústria diferente da atual.
O elenco é impecável, Hopkins quase desaparece, não fosse alguns defeitos na maquiagem e alguns de seus cacoetes que transparecem aqui e ali. A Helen Mirren é a perfeição de sempre, a grande força do filme. De resto, todos estão ótimos, Scarlett Johanson, Jessica Biel, James D’Arcy, Danny Huston, Toni Colette. Ninguém está fora de lugar.
E o diretor Sacha Gervasi, em seu primeiro filme de ficção, faz um bom trabalho. Cria planos longos, com um ou outro movimento eleborado. Deixa os enquadramentos irem apresentando as cenas com cuidado. Não é nada muito especial, mas também não é um trabalho esquecível. Segura bem as cenas e garante a qualidade.
O filme se deixa levar por algum grau de maniqueísmo. O possível amante da Alma é um clichê ambulante, assim como alguns antagonistas para os projetos e planos do casal. Parece que as vontades de Hitchcock são algum tipo de plano divino.
Também incomodou um pouco o retrato feito da figura do diretor. É claro que grandes figuras artísticas e geniais normalmente são difíceis. Mas a trama sugere que ele possui um grau pesado de esquizofrenia e um interesse mórbido por de crimes e assassinatos. Talvez fosse verdade, mas não acho que haja base para criar cenas do cineasta dialogando com o assassino que serviu de base para Psicose.
É bonito como história de amor e tem um roteiro bem estruturado e redondinho. Mas pareceu fantasioso demais. Não é o melhor filme nos cinemas, mas é obrigatório para os fãs do “mestre do suspense”.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

1 comentário em “Hitchcock

  1. Essa ideia que o filme passa sobre a imagem dele, infelizmente, é exatamente como ele era. Na época, era o que mais se falava entre Hollywood e afins. Ele era, antes de mais nada, um obsessivo. Acho que é a palavra que o define melhor. Ele se focava em coisas e não largava delas por nada. Foi assim com projetos, com histórias mórbidas, com interesse por assassinatos, com suas atrizes protagonistas, com perfeição na gravação, etc etc. É só ver o que a Tippi Hedren falava publicamente sobre ele, depois de filmar Os Pássaros.
    Acho que a ideia do filme em mostrá-lo como um esquizofrênico era apontar essa obsessão, no sentido de que ele se sentia tão envolvido pelos interesses que tinha que só podia ser loucura. Não achei um retrato 100% fiel – afinal, ninguém estava na cabeça dele pra saber se ele realmente via Norman Bates por aí -, mas achei interessante para a construção do filme.
    And I said too much.

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