Quando o Stan Lee morreu, muitos exaltaram os heróis que ele criou. O mais famoso deles provavelmente é o Homem-Aranha. O que pouco se falou, porém, é a razão para o sucesso desses personagens. O que faz com que o cabeça de teia seja um dos mais populares da cultura popular? E é exatamente ao fazer a pergunta que esta animação acerta.
Desta vez, quem a história acompanha não é Peter Parker (voz de Chris Pine), mas o adolescente Miles Morales (voz de Shameik Moore). Ele foi picado por uma aranha e adquire os mesmo poderes do Homem-Aranha. Sem saber o que fazer, recebe ajuda de Peter B. Parker (voz de Jake Johnson) e de Gwen Stacy (voz de Hailee Steinfeld), homens-aranhas levados até lá de outras dimensões.
É uma confusão porque pega justamente um dos ciclos de histórias mais estranhos do herói nos quadrinhos, o tal aranhaverso. Poderia dar muito errado com vários protagonistas e tramas sobre múltiplas dimensões, mas o foco aqui é Morales e a jornada dele para entender o que significa ser Homem-Aranha.
Cada um deles tem sua história pessoal trágica, Peter B. Parker envelheceu e perdeu as pessoas que mais ama. Gwen perdeu o melhor amigo. Outras três versões populares dos quadrinhos aparecem, mas servem mais como alívio cômico que como personagens com conflitos. Mesmo assim, as histórias desse sexteto aracnídeo são apenas um fundo para a de Morales.
Tantos personagens geram alguma confusão e fazem com que o roteiro seja difícil de acompanhar. Especialmente quando se leva em consideração o fato de que é um filme de super-heróis em animação, o que deve levar muitas crianças para o cinema. Não será surpreendente se os menores acharem a trama complicada.
Homem-Aranha é mais que uma pessoa que anda pelas paredes e solta teia pelos pulsos, é a motivação para um indivíduo colocar a vida em risco. É o que faz com que o título seja tão grande e popular. E é o que os roteirista Phil Lord e Rodney Rothman entendem muito bem. Morales não é um Homem-Aranha, mas sabe que tem a responsabilidade de assumir o título.
O protagonista, inclusive, dita a estética do filme. Morales é um garoto negro de Nova Iorque. Então o filme imprime as cores e estilos urbanos não apenas na cidade, mas nos cortes e nos efeitos. Com a liberdade dada pela animação tridimensional, o trio de diretores Bob Persichetti, Peter Ramsey e o próprio Rothman coloca balões, onomatopeias e textos na tela para passar a linguagem dos quadrinhos.
Porém, eles criaram uma nova tecnologia para reforçar o visual. Quanto mais desfocados, mais os objetos têm deformidade de cores como em gibis com problemas de impressão. As variações nas tonalidades incluem pontos, como nas histórias em quadrinhos. Além disso, a quantidade de quadros por segundo contam com pequenas quebras que dão a noção de passagem dos quadrados da nona arte.
No meio dessas quebras e dos títulos, os diretores incluem detalhes de pichações e grafite, para dar o tom de Morales à história. Além disso, a trilha sonora orquestrada composta por Daniel Pemberton mistura toques eletrônicos e hip-hop.
O resultado alcança o ápice no momento em que Miles aprende o que deve ser capaz de fazer. Instrumentos de sopro dão o ar heróico, as batidas eletrônicas ditam ritmo acelerado de ação, e a canção What’s Up Danger, do rapper Black Caviar, aumenta a sensação de triunfo. É um dos melhores momentos musicais e cinematográficos do cinema de super-heróis.
Para todos os fãs do cabeça de teia, adaptar o aranhaverso para os cinemas era uma péssima ideia, mas o que foi realizado acerta justamente no que a maioria dos filmes do herói erram. O que faz com que o título Homem-Aranha seja tão adorado e enaltecido está em cada segundo da jornada de Morales.
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